A falta d’água é o problema central para os moradores das dezoito Vilas Produtivas Rurais. Valdirene Bernardino dos Santos, 44 anos, mora desde dezembro de 2010 na VPR Uri, em Salgueiro/PE. Depois de quase dez anos de espera, ela sintetiza o sentimento das pessoas que tiveram suas vidas afetadas pelas obras da transposição: “O grande gargalo é a água. Hoje mal tem água para beber”.
A situação que ela conta em Uri, não difere muitos das outras vilas. “No início éramos abastecidos por carro-pipa, que jogava a água na caixa d’água. Há três anos começou a passar para a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento). Mesmo assim, só chega água a cada oito dias e por poucas horas. Só dá tempo de encher a cisterna”. Na VPR Negreiros, vizinha de Uri, a situação é ainda pior. As 26 famílias que moram lá esperam até 15 dias para terem água na torneira. Para Maria Letícia da Silva, que foi morar na vila em novembro de 2010, até agora, tudo foi “só promessa”.
De todas as vilas, a de Malícia, também em Salgueiro, era a que tinha a pior situação hídrica. Quando a reportagem da Marco Zero visitou a VPR, os moradores já estavam há 22 dias sem receber água. Segundo Damião Vieira dos Santos, 43 anos, que mora na vila desde dezembro de 2014, ele e os vizinhos têm que recorrer aos carros pipas que custam, em média, R$ 120. “Estamos reivindicando à prefeitura cavar um poço, mas até agora nada”.
A falta de água para plantar, manter os animais ou, em alguns casos, até para abastecer a casa, vem acompanhada de uma sensação de impaciência e até revolta. Mesmo com boa parte dos canais, reservatórios e açudes cheios, ninguém recebeu ainda os lotes irrigados e nem pode usar a água por conta própria. É terminantemente proibido o uso da água dos canais e reservatórios da transposição para consumo (humano, animal ou para agricultura), pesca ou mesmo recreação.
O caso dos moradores da VPR Junco é emblemático. “A área destinada para nós plantarmos está a 200 metros da barragem do Livramento, que foi entregue em 2017 por Michel Temer. Nós estamos assentados há dez anos e, mesmo estando tão próximos do canal, a gente ainda não recebeu a água. Mais de dois anos depois de entregue a barragem a gente ainda não tem água para trabalhar”, desabafa Webston Parente Gonçalves, 30 anos, que vive desde 2010 em Junco e atualmente é presidente da associação de moradores da vila.