Da calçada de casa, dona Maria Antônia de Freitas, 67, observa o estirão de carro serpenteando pela rodovia CE-065, que corta Palmácia ao meio. Ainda não sabe em quem vai votar, mas está gostando da folia.
Com 13 mil habitantes e cravada no maciço de Baturité, Palmácia é uma cidade sem tantos divertimentos, acrescenta Antônia, com expressão de enfado.
"Aqui não tem nada, meu filho. Então, quando passa um monte de carro, a gente se alegra", admite, com uma gargalhada abafada apenas pelo jingle do candidato que vai passando rente à porta.
A aposentada espicha a vista. Tenta contar os veículos, mas desiste na metade. "É muita gente", explica.
Sem instituto de pesquisa que possa aferir intenção de voto, a popularidade do candidato a vereador ou à Prefeitura em municípios do Interior se mede pelo número de carros, motos e caminhonetes que consegue colocar na rua, numa algaravia de sons e gritos.
Aquela era grande, mas não a maior, conta dona Antônia. A seu lado, o estudante Lucas Sousa, 26, confirma: a do adversário, que havia passado mais cedo, era maior ainda.
Pergunto se Lucas acha que a animação da carreata, mesmo em desconformidade com as regras sanitárias, interfere na decisão de voto. "Mais ou menos", respondeu, hesitante.
Mas continua: "Para decidir mesmo, a gente leva em consideração a quantidade de gente que vai na carreata". Num município onde há somente duas forças políticas, o governismo e a oposição, ninguém fica em cima do muro.
Menos Luciano Sousa, 52. Desempregado e sem muita paciência para enxame de motor azucrinando o juízo dia e noite, sem dar sossego, desacredita que um punhado de carro mude o voto de ninguém.
E diz mais. Para ele, "carreata não ajuda no voto. É só pela avacalhação". (Henrique Araújo)