Para o estudante universitário Davi Sampaio, um dos sete sobreviventes da tragédia do Edifício Andréa, o dia 15 de outubro marcou e deixou aprendizados
"Olha, doutor, esse pilar aqui jogou o concreto pro chão". Foi essa frase dita no térreo que fez acender o alerta para o estudante universitário Davi Sampaio, 22 anos. Morador do primeiro andar do Edifício Andréa, Davi se preparava para tomar café da manhã e seguir a rotina de um dia comum, quando escutou a frase de um pedreiro, e avistou pela varanda um dos pilares cedendo ao peso do prédio.
O próximo alarde foi a viga que quebrou a parede do quarto da mãe de Davi. Ele, então, decidiu deixar o apartamento. A ideia era sair, ir para o térreo, mas foi parado por um motivo.
"Só dei um passo pra fora e o barulho se intensificou. Imediatamente, eu cogitei a possibilidade de correr, descer pro térreo, só que eu tinha um melhor amigo, que morava comigo, que era o meu gato, ele não me deixou descer. No que tive o impulso se sair correndo, olhei para trás e gritei por ele. Foi então que o chão que estava embaixo de mim cedeu e tudo desmoronou", relembra.
Ao permanecer, Davi ficou, ainda que soterrado, protegido em um vão, com passagem de ar. O recanto por entre os escombros foi o lugar de onde ele verificou o movimento do próprio corpo, ligou aos pais para avisar, para a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) pedindo socorro, mandou selfie e fez vídeos. Por mais de cinco horas esperou resgate e, ao contrário do que a situação poderia causar de angústia, Davi conta que, após momento inicial de desespero, se tranquilizou.
"Isso me deixou um tempo considerável pra eu refletir sobre tudo, na minha vida, de como eu estava me manifestando no mundo. Não foram cinco horas de aflição", relembra o universitário, um dos sete sobreviventes da tragédia que completa um ano e que ceifou nove vidas.
Com a filosofia de não dar um peso maior que o devido às coisas negativas que acontecem, Davi lembra do dia 15 como um dia ruim, que ficou para trás. "Quinze de outubro ficou marcado pra mim como um dia ruim, um dia que foi um modificador de vidas, para todos os moradores e todos que perderam entes nessa tragédia. Mas eu acredito que os dias ruins servem para valorizar os momentos bons", ensina.
Davi perdeu "pequenos tesouros", como define. Fotografias de família, lembranças da infância. Perdeu também os itinerários do dia a dia, a rotina. Com o prédio se foram roupas, livros, um lar. A queda deixou a dor de cabeça de resolver burocracias: a conta do financiamento do apartamento que continua chegando mesmo que não haja mais apartamento e o seguro do imóvel que refutou as tentativas da família de conseguir algum dinheiro para refazer a vida.
Contudo, mesmo diante do desamparo, Davi tenta focar no presente. "O que mais mudou na minha vida foi que após o acidente isso serviu para eu demonstrar mais afeto aos meus familiares, para que eu não guardasse nada pra mim, que eu não deixasse pra depois, porque o depois pode nem existir", acredita. (Domitila Andrade e Germana Pinheiro)