Dez minutos foi o tempo necessário para o seu Clotário Sousa Nogueira e a dona Ana Maria Ramos Nogueira estarem fora do Edifício Andréa quando ele desabou. O casal vivia na cobertura duplex, comprada há quase 40 anos. Com eles, moravam a filha do casal, o marido dela e a neta. Ninguém estava em casa no momento da tragédia.
Dona Maria não queria sair de casa, mas precisou acompanhar o esposo ao banco devido à biometria. Chegando lá, um funcionário do sítio da família ligou para o celular dele. O assunto era "para saber se algo havia acontecido", mas o morador do Andréa ainda não sabia da tragédia. "Está aqui na internet que seu prédio caiu. Aqui está todo mundo chorando", narra, Clotário, as palavras do trabalhador. Objetivo, o aposentado respondeu: "Pois diga aí que ninguém precisa chorar porque não aconteceu nada com a gente. Estamos bem".
Dois meses antes do acidente, a sequência de rachaduras nas colunas, motivadas por reforma no prédio anos antes, havia sido discutida em reunião de condomínio. Depois da reunião, a taxa R$ 350 - o valor do condomínio era R$ 1 mil - foi incluída para os moradores.
Passado o choque inicial, o casal, junto há mais de cinco décadas, logo foi para outro apartamento da família, no bairro São João do Tauape. "Nos mudamos temporariamente, e hoje até já estamos em outro apartamento", conta. "Nós perdemos tudo. Tive que comprar tudo novo, mobiliar. Fomos para um apartamento e nossa filha para outro. Dessa vez, nos separamos".
Esta foi a segunda vez que o seu Clotário Nogueira viveu para contar a história. Ele já havia sofrido um acidente de carro. "Sempre fui uma pessoa muito equilibrada. Sofri pouco, graças a Deus, apesar do prejuízo grande. Deu pra suportar", continua. "Senti muito porque o meu apartamento tinha seguro, mas só cobria incêndio. Não tinha cobertura para desabamento. Não recebi nada e nosso advogado está vendo, mas é difícil".