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Ponto de vista. É preciso humanizar corpos trans
Reportagem

Ponto de vista. É preciso humanizar corpos trans

Edição Impressa
Tipo Notícia
Dália Celeste, afrotransfeminista (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Dália Celeste, afrotransfeminista

Como uma pessoa trans, demarco que o processo de transfobia é gerado pela falta de humanização de nossos corpos. Vivemos numa sociedade em que os nossos corpos são vistos e ditos como não são dignos de existir. Enquanto muitos, em suas pautas, lutam pela questão de direito ao respeito, pelo direito de amar, pessoas trans e travestis lutam pelo direito de existir. Quando falamos de dados, falamos de casos que sempre são subnotificados, visto que, por muitas vezes, pessoas trans e travestis são assassinadas e, até mesmo após o assassinato, saem na mídia com a identidade de gênero desrespeitada. Vivemos no País que mais consome produtos voltados à pornografia de pessoas trans e que é, ao mesmo tempo, o País que mais mata esses corpos. Costumo dizer que o transfeminicídio vem do ódio. O homem mata porque sente vergonha e não sabe lidar com o desejo a um corpo que ele foi ensinado a odiar. A perspectiva que tenho diante de toda essa conjuntura é que, a cada dia mais, há o aumento desse ódio, porque as pessoas não compreendem que precisamos respeitar diferenças, precisamos respeitar o outro, e humanizar esses corpos socialmente, colocar esses corpos em espaços de educação, de trabalho. Todo o aumento dessas execuções que vem acontecendo está sendo naturalizado. Os nossos corpos precisam ser humanizados, porque, enquanto nossos corpos forem vistos como objetos, como corpos marginais, nós continuaremos morrendo.

Dália Celeste, afrotransfeminista, estudante de Direito e pesquisadora da Rede de Observatório de Segurança de Pernambuco, em depoimento dado ao O POVO por áudio.

 

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