Para pesquisadores e profissionais de saúde, a próxima gestão precisará investir mais em qualidade de profissionais e planejamento territorializado. Desafio futuro também será investir, mesmo com subfinanciamento, além das expectativas do eleitorado acerca de melhores políticas públicas futuras para a área da saúde, parte da população fortalezense já avalia como a atual gestão trata a questão. Isto porque dados da última pesquisa O POVO/Datafolha, divulgados na última quarta-feira, 28, revelam que a saúde pública ainda é uma grande questão.
Segundo o levantamento, perguntados sobre qual a área de melhor desempenho da Prefeitura, a saúde empata com a educação, captando 11% de preferência do eleitorado. Na contramão, questionados sobre quais os serviços de responsabilidade do município que apresentam mais problemas, a saúde aparece em segundo lugar, com 27%, atrás apenas da segurança pública, atribuição não diretamente ligada à função do gestor municipal.
Um dos críticos dos serviços de saúde é o motorista Francisco Juarez, de 63 anos. Residente no Centro, ele critica a demora para conseguir consultas nos posto de saúde. "Quando é de urgência eles atendem rápido, mas se for para consulta normal não. No posto, para conseguir uma consulta você vai um dia. Passa um mês para poder ser atendido. Quando marca o exame você passa um mês para começar a fazer, mais um mês para receber e depois voltar pro médico", conta.
Sobre melhorias nos últimos quatro anos, Francisco afirma que "avançou muito pouco". "No meu caso, passei um ano e dois meses tentando urologista, então fiz pelo particular", disse.
A dona de casa Ana Carolina, de 24 anos, também divide a mesma opinião. Mãe de dois filhos, ela defende que "para gente que depende de coisa pública é muito difícil". "Para mim não melhorou nada, ainda mais nessa dificuldade da pandemia. Para a gente que não tem condições de pagar plano é muito difícil", conta.
Ana revela que, antes mesmo da pandemia, já enfrentava dificuldade em ir aos hospitais. Agora, a situação piorou. "A prefeita, ou o prefeito, que for eleita tem que investir muito na saúde, tanto faz para o idoso, o jovem ou o adolescente. Primeiro precisam melhorar o posto de saúde. Tinha que melhorar muito as políticas para gestantes, os exames de sangue e o número daquelas pessoas que vão nas casas das pessoas, os agentes de saúde", classifica.
Para Maria do Socorro, de 55 anos, Fortaleza enfrenta uma situação de precariedade que perpassa as gestões municipais. "Não é de agora, mas há muito tempo. A gente fica numa fila de espera de um exame 10 ou 15 anos e não sai. Deveriam investir mais para facilitar para a população mais humilde", conta.
Segundo a pesquisadora em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-CE) e doutora em Saúde Coletiva, Vanira Pessoa, a Capital ainda precisa implantar uma melhor abordagem coletiva. "Priorizar a Saúde pública trata-se de buscar atuar no setor público compreendendo a saúde das coletividades, dos grupos populacionais como resultante de ações de promoção da vida", destaca.
Já para Anya Meyer, também pesquisadora especialista da Fiocruz, houve alguns avanços, como o aumento de postos e a contratação de profissionais, principalmente médicos. Contudo, ela afirma que os problemas ainda existentes seriam superados caso a gestão investisse mais na qualidade dos profissionais e no planejamento descentralizado das equipes.
"Se eu pego uma equipe na Barra do Ceará, ela não vai ter um perfil de população que está no Benfica. As ações que as equipes de saúde farão lá serão diferentes. Isso vale mais investimentos para próximos anos", afirma Anya. O planejamento territorial, segundo ela, precisa de "tempo, ferramentas e incentivo" para ser realizado na próxima gestão.
O grande desafio para o próximo gestor de Fortaleza, segundo o cientista político Cleyton Monte, será investir na ampliação da rede de unidades de saúde e no reforço da atenção básica mesmo com o déficit de verbas. "Terá que se pensar saúde pública num momento de subfinanciamento. O orçamento da saúde é compartilhado e o Governo Federal está em corte de recursos, o municipal tem poucos e sobra, basicamente, os do Governo do Estado", avalia.
Segundo Cleyton, também caberá à próxima Prefeitura formar uma base de sustentação na Câmara de Vereadores. "Isso passa pela Câmara para ter mais financiamento. Se não tiver uma base que pelo menos a construa no início do ano", diz. (Filipe Pereira)