A pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box – Crianças e smartphones no Brasil – Outubro de 2020 aponta que 61% das crianças de zero a três anos têm acesso a smartphone, seja o equipamento delas ou dos responsáveis. Nas demais faixas etárias, o percentual aumenta, passando por 87% entre as crianças de quatro a seis anos; 89% entre as de sete a nove anos, e 95% nas de dez a 12 anos.
Os danos à saúde física e mental são diversos nas diferentes etapas de desenvolvimento das crianças, assim como as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também mudam com o avançar da idade. Crianças com menos de dois anos de idade não devem ser expostas às telas, mesmo passivamente, segundo a entidade. Já entre dois e cinco anos, o tempo de tela deve ser de, no máximo, uma ou duas horas, sempre sob supervisão de pais ou responsáveis.
Até os dois anos, falta à criança maturidade cerebral para não ser tão afetada pela exposição às telas. Como consequência, pode haver atraso na fala e no desenvolvimento psicomotor, explica Daniela Dias Furlani Sampaio, mestre em Psicologia e doutora em Educação. "Ela pode inclusive ter atraso na fala, no desenvolvimento psicomotor. E isso tem uma repercussão que pode gerar dificuldades de aprendizagem com maior vulnerabilidade para o desenvolvimento de certos transtornos, como TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade)", aponta a psicóloga.
A faixa etária de zero a três anos também é a fase de maior plasticidade cerebral e, por isso, "um período crítico do desenvolvimento", explica o psiquiatra Nagib Demes, diretor-presidente da Sociedade Cearense de Psiquiatria (Socep). "Os estímulos do ambiente — ou a falta deles — são muito importantes para determinar o quão eficiente será o desenvolvimento cerebral", afirma.
Também pode haver atraso no desenvolvimento da fala também pode ser impactado quando a criança tem entre quatro e seis anos, idade em que se termina de desenvolver os últimos aspectos fonológicos. "Além disso, é a idade em que a criança está iniciando o processo de alfabetização. Nesse ponto, a tela pode entrar tanto como auxiliar à educação como um fator que piora a concentração nas atividades escolares", acrescenta o neuropediatra José Leandro.
Já na fase de dez a 12 anos, última faixa etária apontada pela pesquisa, o jovem está em processo de desenvolvimento social e emocional, além de sair do pensamento abstrato para o formal, iniciando período de ajuste do raciocínio e tomada de decisões por meio de julgamentos próprios, explicam os médicos.
"É uma idade em que a formação de pontos de vista e concentração na própria perspectiva está mais evidente. A perda do desenvolvimento cognitivo adequado nessa idade poderá levar a um adulto inseguro e com dificuldades de relacionamentos interpessoais", explica o neuropediatra.
Ele acrescenta que estudos têm mostrado que o uso de eletrônicos pode levar a sintomas de vício semelhantes aos causados pelo uso de drogas ou de álcool. Alguns sintomas são deixar de se alimentar, de dormir e de interagir com os familiares de forma adequada.
A dependência tem sido recorrente não só em crianças e adolescentes, mas também entre adultos. "Como ainda é novo, as pessoas não têm consciência de que estão dependentes. Então, o tratamento fica mais difícil ainda, pela dificuldade de essas pessoas se conscientizarem e pedirem ajuda", afirma a psicóloga Daniela Dias Furlani Sampaio.