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Das três mortes que desencadearam a chacina, duas seguem sem suspeitos identificados
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Das três mortes que desencadearam a chacina, duas seguem sem suspeitos identificados

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A Chacina do Curió ocorreu na madrugada de 12 de novembro, mas foi gestada dias antes, com três assassinatos que ainda clamam por Justiça. No caso de um deles, o da morte de Francisco de Assis Moura de Oliveira Filho, o Neném, de 16 anos, ocorrido em 25 de outubro, dois homens foram pronunciados e aguardam julgamento. Nos outros dois, porém, nenhum suspeito foi identificado: cinco anos depois, segue-se sem saber quem matou Francisco de Assis Moura de Oliveira, pai de Neném, em 30 de outubro; e o soldado Valterberg Chaves Serpa, em 11 de novembro.

Conforme a investigação da Delegacia de Assuntos Internos (DAI), a peça-chave para entender a trama que resultou na chacina é o soldado Marcílio Costa de Andrade. Em 25 de outubro, um familiar do soldado se desentendeu com um homemanos, no bairro Curió, em virtude de uma "fofoca". O PM, que estava bebendo, foi chamado para intervir na discussão, junto com um amigo, Giovanni Soares dos Santos. Com as chegada dos dois, o homem teria corrido, mas foi ferido à bala por ele. Os tiros também atingiram Francisco de Assis Moura de Oliveira Filho, que veio a óbito. Neném seria traficante da área. Antes de ser baleado, o homem chegou a ligar para Ciops relatando ter sido ameaçado por um PM. A ligação registrou um diálogo entre Neném e ele, em que aquele dizia que este tinha "maiado a área. chamando polícia".

Quatro homens foram acusados pelo crime, mas somente Giovanni e Marcílio tiveram provas suficientes contra si para enfrentar o Tribunal do Júri, conforme decisão judicial. Ambos recorreram da sentença de pronúncia, o que ainda vai ser apreciado pela Justiça. Não há data para o julgamento.

Com a morte de Neném, o soldado Marcílio teria começado a receber ameaças, o que fez com que a família dele se mudasse do bairro. Testemunhos no inquérito afirmam que policiais escoltaram a família do soldado. A partir disso, conforme colhido pela investigação da DAI, uma série de abusos policiais são registrados no barro. Na noite do dia 29 de outubro, já quase no dia 30, um homem liga para o Ciops dizendo que policiais à paisana e com balaclavas estavam "aterrorizando" as pessoas no Curió. "Estão parando todo mundo na porrada", afirmou.

Minutos depois, Francisco de Assis Moura de Oliveira é morto a tiros. Ele era pai de Neném. "Botararam o portão para dentro e mataram um dentro de casa", disse um cidadão a Ciops. Francisco de Assis era cadeirante. Ligação a Ciops diz que os assassinos eram policiais. O caso é investigado pela DAI, mas, passados cinco anos, nenhum suspeito foi identificado. Conforme o inquérito que investiga a morte de Neném, os crimes que vitimaram filho e pai podem estar relacionados, já que este havia ameaçado se vingar da morte de Neném. Em março, a Justiça havia concedido mais 90 dias para a conclusão das investigações, mas não houve nova movimentação do inquérito desde então. Parecer do Ministério Público, de fevereiro de 2020, afirma que a Secretaria da 1ª Vara do Júri deixou de dar impulso oficial ao feito após a digitalização, em 2015.

Conforme a DAI, “percebe-se que Marcílio Costa de Andrade aproveitando-se da ameaça sofrida por ele, em razão dos fatos já expostos, espalhou no meio policial que estaria sendo vítima de uma injustiça, o que possivelmente fomentou a exacerbação dos ânimos de um grupo de policiais, fato esse que se agravou com o latrocínio do SD PM Serpa”. Esse crime ocorreu horas antes da chacina, por volta das 21h30, na Lagoa Redonda, quando três homens abordaram a esposa do PM Serpa, que estava jogando futebol nas proximidades. Ao tentar defender a esposa, Serpa foi morto com um tiro. Relatório de inteligência apontou ter havido “comoção” entre os policiais militares, que passaram a se organizar para fazer buscas extraoficiais pelos assaltantes. Em julho, o inquérito que investiga o caso teve concedidos mais 90 dias pela Justiça, última movimentação da peça que consta no sistema de consulta processual.

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