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Política de Saúde para a População Negra só existe em 28% dos municípios brasileiros
Reportagem

Política de Saúde para a População Negra só existe em 28% dos municípios brasileiros

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Posto de saúde em Fortaleza (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Posto de saúde em Fortaleza

Doenças como a anemia falciforme, diabetes, hipertensão arterial e algumas complicações gestacionais, por exemplo, são mais comuns na população negra se comparada à população geral brasileira. Segundo pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a sobrevida de mulheres negras em casos de câncer de mama é até 10% menor do que entre mulheres brancas, e um dos principais motivos é o diagnóstico tardio.

“Uma política de saúde voltada para a população negra não é voltada somente para as doenças prevalentes nessa população. Estamos falando também de outros fatores que afetam diretamente a saúde desse grupo, tais como as condições de vida dessas pessoas, a falta de saneamento básico, higiene, alimentação e grau de instrução”, aponta Sandra Medeiros, psicóloga e mestre em saúde coletiva pela Universidade de Brasília (UnB).

“No entanto, é estarrecedora a quantidade de situações que expõe o racismo nas instituições de saúde. Um dos exemplos desse racismo é o fato de que muitos profissionais de saúde têm a ideia de que mulheres negras são mais fortes, portanto não sentem tanta dor, o que se reflete na quantidade de anestésico que é dado a elas em situações de sofrimento”, explica.

Uma ferramenta que poderia diminuir o número e a recorrência de histórias como essas é a portaria 992/2009, que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra no Brasil (PNSIPN). No entanto, mais de uma década se passou e poucos municípios brasileiros incluíram as ações previstas do PNSIPN no planejamento municipal de saúde - de acordo com o Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic) de 2018, do IBGE, esse número chega a somente 28%. No Ceará, segundo os dados do mesmo ano, a marca é equivalente. Segundo o documento, cabe a gestores municipais e estaduais combater as manifestações de racismo no serviço de saúde.

“A PNSIPN não implica, necessariamente, em aumento de gastos para a criação de novos programas de saúde. Na maioria dos casos, bastaria repensar ações que já são realizadas, para garantir que alcancem esse público”, ressalta Sandra.

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