Logo O POVO+
"Apatia cívica e pulsão por participação", segundo Raquel Machado
Reportagem

"Apatia cívica e pulsão por participação", segundo Raquel Machado

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Raquel Machado (Foto: JOÃO FILHO TAVARES)
Foto: JOÃO FILHO TAVARES Raquel Machado

A sensação de insignificância desmotiva o humano à ação. Ser apenas uma vontade imersa em milhões, ter os seus anseios continuamente frustrados ou possuir um relacionamento distante com quem deveria representá-lo são sentimentos que acompanham o eleitorado. Além disso, muitas vezes, as preocupações com a vida íntima voltam a atenção do indivíduo sobretudo a questões egoísticas, centradas nas relações mais próximas e desligadas da totalidade da sociedade.

A apatia cívica parece se apoderar do cidadão e o voto se revela um incômodo ato de encenação institucional, no palco de artificialismos da política, em que o poder do povo é mera retórica de palanque (ou de mídia digital).

Esse cenário, aliado à pandemia e ao receio da transmissão do vírus no momento da votação, certamente justifica a abstenção de domingo às urnas. No entanto, mesmo a ausência dos eleitores sendo percentualmente mais elevada, o contexto político e sanitário faz com ela não seja tão grave, apesar de indicar a necessidade de um chamamento do cidadão ao espaço público de decisão formal.

Resoluções públicas precisam ser tomadas em qualquer sociedade. Ou elas serão tomadas livremente na democracia, em constantes processos de escolhas de líderes, ou serão feitas por algum defensor da desnecessidade do processo decisório público, que as imporá. A escolha entre um e outro cenário não se revela tão difícil para quem preza pela liberdade.

Em alguns municípios do país, as eleições empataram e o resultado foi decidido com base na idade do candidato; em outros, a diferença foi de poucos votos, a revelar que o voto, mesmo de poucos eleitores, sela sim o destino da disputa. A força concreta do exercício do sufrágio importa não apenas por questões numéricas cruciais. A matemática democrática é mais complexa.

É no voto que se constrói a responsabilidade pelo mandato e o indivíduo se engaja em temas sociais. Se para o eleitorado tanto fizer o conteúdo das decisões, para o candidato eleito mais ainda. A ideia corrente de que os políticos são todos iguais, se pode ser verdade quanto ao meio de se fazer campanha e de se chegar ao poder, não o é quanto às decisões sobre as políticas públicas a serem priorizadas e executadas ao longo do mandato.

O perfil ideológico dos candidatos e os seus compromissos com algumas pautas de valores são cruciais para os rumos da organização de cada localidade. Esses caminhos, no processo democrático, têm como leme o voto. Não votar é deixar o destino da representação política ao léu ou nas mãos de pessoas com anseios de viagem diversa, é, enfim, sujeitar-se a qualquer destino. Voto é voz, destino e luta, ainda que se revele tão pulverizado na amplitude do poder.

 

O que você achou desse conteúdo?