O surgimento do videotape em 1966 facilitou a produção dos programas televisivos, mas também iniciou uma cadeia de problemas que a Rede Tupi não conseguiria superar. Era uma nova fase para a televisão e, também, o início do fim da primeira emissora do Brasil. A primeira questão se tornou evidente desde a implementação da tecnologia: tornou-se mais barato elaborar conteúdos no Rio de Janeiro e em São Paulo para, depois, enviar às televisões de outras regiões. Com isso, programas cearenses, até mesmo seus teleteatros, foram extintos. Antes produtores, os canais passaram a ser reprodutores.
Outro fator intensificou a queda da Rede Tupi: a morte de Assis Chateaubriand, em 1968. "A partir desse momento, o modelo centralizador de tomar decisões entrou em crise. Chateaubriand não era um homem de preparar sucessores e entrou em rota de colisão com seu filho Gilberto", identifica o pesquisador Gilmar de Carvalho.
Houve, ainda, uma questão regional após a implementação da TV Verdes Mares, em 1970. "Ela trazia a percepção dos erros da emissora pioneira e tratava de fazer uma gestão mais enxuta, já sem os investimentos da produção local e centrada no telejornalismo. Novelas, musicais e shows já vinham da Globo e da Record. Depois de algum tempo, o canal 10 se tornou uma afiliada da Globo", explana o pesquisador.
Em meio a esse cenário instável, a Rede Tupi começou a enfrentar problemas administrativos e financeiros. Falta de pagamento de seus funcionários e dívidas eram os pontos principais. A situação teve desfecho em julho de 1980, quando João Figueiredo, o último presidente do Regime Militar brasileiro, assinou o decreto que extinguiria a Rede Tupi.
As memórias do canal 2 se mantém vivas, hoje, mais no âmbito imaterial do que no material. Isso porque são poucos os registros de fotos, documentos e vídeos dos 20 anos de história da TV Ceará. As dissertações, livros e publicações posteriores ao fim da emissora, bem como acervos de jornais, como O POVO, são, hoje, as fontes possíveis de pesquisa documental sobre o início da experiência televisiva no Estado.
"Como não tínhamos como registrar o que foi feito, quase tudo se perdeu. Não tínhamos arquivo, acervo", aponta Gilmar de Carvalho. "A TV Ceará fica cada vez mais longe, no tempo. Perdemos quase todos os participantes destes tempos inaugurais. Muita coisa deve ter ficado, além da saudade. Experimentamos um jeito nosso de fazer tevê. E como digo, nostalgicamente, no final do livro: 'Nunca mais mudaremos de canal'", finaliza o pesquisador.