No ano de 2020, o Ceará aumentou a potência instalada para a produção de energia solar e se estabilizou como o 9° estado brasileiro com maior capacidade para geração de energia a partir de placas fotovoltaicas.
Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) neste mês. Em 2019, o Ceará também figurava no 9º lugar entre os estados com maior potência instalada, com 55,5 (MW). Em 2020, o número quase triplicou, registrando 155,00 (MW).
Fortaleza também registrou alta no número de potência instalada. Em 2019, a Cidade protagonizava o 3° lugar no ranking municipal, com 17,6 (MW) de capacidade instalada. Nos novos dados de 2021, a Capital caiu duas posições entre os municípios, aparecendo em 5° lugar, mas com o número de potência instalada quase três vezes maior que o do ano anterior. Atualmente, a Capital possui 40,3 (MW) de potência instalada.
Empresários do ramo avaliam que durante 2021 e nos próximos anos o número de potência instalada deve crescer mais ainda. No Ceará, a distribuidora de painéis fotovoltaicos Sou Energy registrou faturamento dez vezes maior em dezembro de 2020 quando comparado com o mesmo período de 2019.
De acordo com Mário Viana, gerente Comercial da empresa, a perspectiva é de que em 2021 o negócio tenha o faturamento quadruplicado em relação ao ano anterior. A rede de franquias Solarprime também mira no crescimento do setor tanto no Ceará quanto no Brasil. Nacionalmente, a empresa registrou a inauguração de mais de 120 lojas que distribuem sistemas de painéis solares em 2020. Para este ano, a expectativa é de maior aquecimento econômico, com faturamento de R$ 500 milhões, conforme avalia Raphael Brito, fundador da rede de franquias.
Os dados reunidos e divulgados pela Absolar e Aneel também evidenciam que a energia de matriz solar segue em crescente. Em comparação com 2019, a matriz elétrica solar cresceu 0,2%. Em 2020, a energia gerada por painéis solares representou 1,6% de toda a matriz energética consumida no Brasil. No topo da lista, a principal matriz é a hídrica, que representou 59,9% do consumo no ano passado, mas apresenta número menor que em 2019, quando registrou 60,9% da geração nacional.
O crescimento na adesão às placas solares fotovoltaicas pode ser explicado pelo custo/benefício superior quando comparado com a utilização da energia convencional oferecida pelas concessionárias. A economia pode chegar a até 95%, como aponta levantamento da Absolar.
O atrativo do barateamento da conta de luz chamou a atenção do cirurgião-dentista Mario Neto, que instalou um empreendimento de energia solar há cerca de quatro meses em sua clínica localizada no bairro Joaquim Távora, em Fortaleza. O empresário relata que, além de já observar a economia nas contas de luz no presente, fez um investimento para o futuro, uma vez que, após terminar de pagar o financiamento das placas, não irá se preocupar com contas altas de energia.
O empresário avalia que o investimento nas placas fotovoltaicas também oferece vantagens por gerar créditos quando a produção é maior que o que é consumido. Segundo a Enel, distribuidora de energia no Ceará, a companhia possui atualmente 10.447 clientes com painéis solares que utilizam esse sistema de créditos no Estado.
Energia sustentável e econômica
Um dos principais motivos que podem explicar o aumento na adesão da energia solar em residências e empresas é a gama de possibilidades para financiamento do investimento nas placas fotovoltaicas. O investimento, avaliado entre 10 a 40 mil a depender da potência instalada, pode ser financiado por bancos públicos, privados ou por fintechs (startups financeiras).
Empresários do ramo e pessoas que já aderiram ao sistema de painéis fotovoltaicos avaliam que o investimento, quando financiado, pode ser substituído pela conta de luz. Após o final do financiamento, os investidores possuem um sistema que possui vida útil de cerca de 30 anos e precisam se preocupar apenas com os encargos cobrados pelas concessionária de energia, como a taxa de iluminação pública, por exemplo.
O professor Raphael Amaral da Câmara, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), analisa que o sistema é robusto e demanda pouca manutenção após ser instalado.
Ele explica que o funcionamento das placas fotovoltaicas precisam apenas de energia solar para funcionar. "As placas são constituídas por elementos semicondutores, que dependem de uma estimulação externa para conduzirem energia. Essa estimulação é feita pela energia do sol, que emite energia na forma de fótons e se fazem suficientes para gerar energia dentro dos elementos semicondutores na placa fotovoltaica."
A energia gerada durante um dia de sol é consumida imediatamente pelos equipamentos eletrônicos e não pode ser armazenada. Ela é captada e em seguida consumida pelos proprietários da casa ou estabelecimento. Conforme explica a Enel Ceará, as residências e empresas geram o próprio consumo e caso tenham produção excedente, a energia é convertida em créditos, que podem ser utilizados nas contas do próprio gerador e de outras unidades consumidoras em até 60 meses.
Para a professora Adryane Gorayeb, do Departamento de Geografia da UFC, os benefícios da energia solar renovável têm peso para o meio ambiente. De acordo com a doutora em Geografia, a energia é limpa e tem poluição ambiental reduzida, além de não consumir água e não produzir CO2. "A instalação do projeto é rápida, quando comparada a outras fontes energéticas, já que as placas são produzidas em escala industrial e podem ser rapidamente instaladas e conectadas à rede elétrica", acrescenta Gorayeb.
Investimentos no Ceará
O mercado para a energia solar tende a se expandir no Ceará. A empresa gaúcha Edsun, startup de investimentos em energia solar, procura condomínios de casas em Fortaleza para receberem sistemas de painéis solares para a geração da energia comum do condomínio. O diferencial oferecido pela marca é que os interessados não precisam desembolsar investimento para instalação, que será feita pelos investidores da empresa e os condôminos ficam responsáveis pelo aluguel mensal das placas, que pode ser mais barato que a conta de energia.
Em Fortaleza, quatro projetos para condomínios estão sendo aprovados pelos moradores e administradores dos residenciais, como explica Cristiano Meditsch. O empresário ressalta que o investimento nas usinas solares será superior a R$ 5 milhões. Neste ano estamos acelerando bastante e o Nordeste é essencial para esta expansão, pois é uma região que tem muito sol e onde a energia é cara. Essas características viabilizam muito os projetos", explica Meditsch.
Em maio de 2020, a Prefeitura de Fortaleza retomou também edital para a implantação de painéis de energia fotovoltaica em equipamentos de educação da Capital. A prefeitura prevê que, após instaladas, as placas possam gerar energia de escolas e creches municipais por pelo menos 25 anos. Com o projeto, serão atendidas 490 unidades da Secretaria Municipal da Educação (SME).
A iniciativa deve ser feita parceria público-privada e também pode gerar benefícios para o orçamento das escolas. A SME avalia que, com a economia nas contas de luz, pode haver mais dinheiro para ser aplicado diretamente na infraestrutura da escola.
Já a Universidade Federal do Ceará (UFC) aposta no monitoramento de dados de energia solar para contribuir com o crescimento da fonte de energia no Ceará. A instituição firmou parceria na última segunda-feira, 25, com a empresa ECO - Soluções em Energia para a observação e controle de dados de usinas de energia solar no estado.
O novo sistema, batizado de ECO Solaris, será composto por soluções integradas de software e hardware que visam otimizar o monitoramento de dados captados a partir das usinas de energia solar, com armazenamento das informações em nuvem computacional e utilizando técnicas de internet das coisas (IoT).
A ideia é que os equipamentos, chamados de SmartLogger, possam, alinhados a uma plataforma web, concentrar dados e detectar possíveis falhas, facilitando a manutenção e a gerência de usinas no Ceará.