Nesta segunda-feira, 1º, serão realizadas as eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Mais que a escolha de novos nomes, em 2021, o resultado deve definir qual rumo tomará a política nacional nos próximos anos no momento em que o Parlamento ganha bastante protagonismo em meio à condução da crise sanitária do coronavírus e as consequentes tensões políticas.
Na Câmara, os principais candidatos são os deputados Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Arthur Lira (PP-AL), próximo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Também participam da disputa, porém, sem grandes articulações ou chances de vitórias, os candidatos Alexandre Frota (PSDB-SP), André Janones (Avante-MG), Capitão Augusto (PL-SP), Fábio Ramalho (MDB-MG), Luiza Erundina (Psol-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS).
Para o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o ponto central da disputa é uma possível abertura de um processo de impeachment de Bolsonaro.
“É aí que cai a importância do presidente da Câmara mais que no Senado, pois é ele quem decide ou não pela aceitação da abertura do impeachment. Nesse sentido, o Planalto aposta suas fichas em Lira, que, efetivamente, implicaria em não levar à frente esse processo”, destaca.
Outro fator levantado por Prando é o poder e a capacidade do governo federal de emplacar suas agendas até o fim da gestão, detendo mais poder ou não sobre as pautas legislativas.
“Bolsonaro, tendo nas Casas aliados e figuras conectadas ao Planalto, vai tentar trazer os temas que são confortáveis, como a pauta dos costumes, do conservadorismo, do armamento, a questão das polícias militares e temas que o bolsonarismo consegue verbalizar”, avalia.
“O governo está travado. Desde que assumiu não formou maioria. Tem uma relação difícil com o Congresso. A gente considera que o Bolsonaro já vem de um governo com dificuldades de gestão, com agenda que não conseguiu ser colocada para ser votada, o governo hoje não tem poder de agenda”, reforça Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Para ela, a eleição coloca em xeque uma futura proximidade entre Planalto e Congresso, elemento prejudicado até então e que afeta o poder da agenda presidencial. Monalisa destaca que a disputa coloca à prova a capacidade de acordo entre os parlamentares do Centrão, grupo político que avança diante de crises políticas resultantes de divisões partidárias e problemas na gestão Bolsonaro.
“Na Câmara, o Rodrigo (Maia), por exemplo, tenta emplacar seu nome, com um bloco que consiga agir mais que o presidente. O Centrão está numa situação relativamente confortável, pois tem um governo frágil e com uma sociedade pressionando”, diz.
No entanto, segundo Monalisa, a possibilidade efetiva de impeachment ainda é uma realidade distante, visto a tentativa de desgaste do presidente e o fortalecimento de alguns nomes dentro do Congresso para a eleição presidencial de 2022.
“No momento, o que a eleição vai definir são mais os atores que vão se fortalecer. Caso o Baleia Rossi saia vitorioso, quem se fortalece também é o Maia, em um cenário em que ele sai do jogo”, destaca.
É o que reforça o professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Musse. Ele avalia que a eleição representa um 'rearranjo' para as candidaturas em 2022, com acordos entre grupos políticos sendo definidos.
"A própria questão do impeachment passa por esse ponto. O que interessa aos partidos de direita, por exemplo, é que seja aberto um processo de impeachment contra Bolsonaro, porque, mesmo se ele não for vitorioso, contribui para o desgaste do presidente e o enfraquece para 2022", afirma.
A eleição ocorre no momento em que o número de partidos em torno de Baleia chega a 12, somando 292 deputados. Já Lira capta 10 legendas em torno da sua campanha, com 206 parlamentares.
Porém, como o voto é secreto e as deserções são uma realidade, os números não condizem com a realidade. Nos bastidores, Lira é considerado favorito, com candidatura turbinada por verba de emendas parlamentares estimadas em R$ 3 bilhões liberadas pelo Planalto para que os deputados votem no líder do Centrão.
Na última quarta-feira, 27, Maia acusou Bolsonaro de prometer até R$ 20 bilhões em emendas parlamentares em troca de votos para eleição na Câmara dos Deputados.
No mesmo dia, Bolsonaro afirmou ter a intenção de "influir" na presidência da Câmara por meio de deputados do PSL. A declaração foi dada após uma reunião com deputados do partido, em conversa com apoiadores na saída da residência oficial do Palácio da Alvorada.