Logo O POVO+
Evasão e abandono escolar são desafios
Reportagem

Evasão e abandono escolar são desafios

| EVASÃO | Pesquisas mostram que muitas vítimas estavam fora da escola
Edição Impressa
Tipo Notícia

A relação entre escolaridade e homicídios já havia sido constatada nas pesquisas de campo elaboradas pelo Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), da Assembleia Legislativa do Ceará. Em 2015, dos 224 casos de adolescentes entre 10 e 19 vítimas de homicídio, 159 (ou seja, 71,9% do total) estavam fora da escola quando foram mortos. Apenas 34 deles tinham ensino médio completo.

Os pesquisadores voltaram a campo em 2019, dessa vez, para investigar as condições de meninas mortas, com a crescente de vitimização dessa população. O resultado também foi superlativo: 58,06% das 62 meninas mortas pesquisadas estavam fora da escola.

Conforme o deputado estadual Renato Roseno (Psol), relator do CCPHA, a evasão escolar costuma ser a primeira evidência do aumento da vulnerabilidade na vida de um adolescente. "O principal motivo nas nossas pesquisas pelos quais um adolescente sai (da escola) é a pobreza ou o trabalho. E isso gera desinteresse no ciclo de educação", afirma.

Para ele, é preciso pensar em um modelo de educação que seja atraente para esse jovem, dentro de um contexto em que o grupos armados oferecem senso de pertencimento, poder e capacidade de consumo. Para isso, avalia, são ferramentas fundamentais a busca ativa ("a gente já deu avanços, mas precisa de muito mais") e o que chama de "projeto pedagógico que pense fora da caixa". Importante iniciativa nesse sentido são as bolsas, como as ofertadas pelo Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência (PReVio), do Governo do Estado. "Acho superimportante aumentar o PReVio a quantidade de bolsas ofertadas", afirma Roseno. "Eu sempre digo assim, quando alguém diz, fulano abandonou a escola eu digo, quem abandonou quem? Será que a nossa sociedade e o sistema escolar já não tinham abandonado esse menino antes?"

Conforme Iane Nobre, coordenadora de gestão pedagógica do Ensino Médio, a Secretaria da Educação do Estado (Seduc) trabalha com uma política de desenvolvimento de competências socioemocionais. Entre as iniciativas, está o projeto Professor Diretor de Turma, iniciado em 2007, e hoje em quase 645 escolas. Nele, conta Iane Nobre, um professor é escolhido para acompanhar determinada turma, seja ministrando disciplina de Formação para a Cidadania, seja prestando atendimentos individuais e identificando problemas. Outra iniciativa é o Diálogos Socioemocionais, que trabalham com os alunos 17 competências como autogestão e empatia.

"Quando aluno é trabalhado dessa forma, que a gente chama de educação integral, tanto ele vê os componentes, do cognitivo, como também é trabalhado questões sociemocionais, ele cria um vínculo muito maior com a escola, ele passa a ter mais responsabilidade para entender o quanto estar na escola é importante para a vida dele, ele passa a se relacionar melhor com as pessoas. Ele desenvolve competências que o ajudam a ficar muito mais tranquilo na escola", afirma Iane Nobre. O resultado, ela afirma, estão nos indicadores de abandono escolar, que tiveram recordes positivos nas últimas aferições divulgadas, em 2019: 3,8%. "Quando a gente olha para as causas do abandono a gente vê que esse engajamento, esse vínculo que se constitui é um fator que faz com que ele não abandone".

 Em nota, a Secretaria Municipal da Educação (SME) afirmou trabalhar contra o abandono com ações como criação de um sistema próprio de acompanhamento diário da frequência escolar. "O referido sistema, além de assegurar o monitoramento diário da frequência escolar, possibilita o registro das estratégias de Busca Ativa, tomadas em relação a alunos(as), a partir do primeiro dia de infrequência escolar injustificada." Reflexo disso, diz a SME, é que a taxa de abandono em 2019 foi de apenas 0,4%.

 

O que você achou desse conteúdo?