No princípio, a mãe é nosso espelho mais nítido.
No começo, há as tias, as avós, as professoras e, principalmente, as amigas.
Quem não se recorda de uma amiga da infância? E como ela refletia nossa inquietude de menina, depois os dramas da adolescência, as mudanças repentinas que nos agitavam e, aos solavancos, como se fôssemos personagens de um show de mágica, já éramos outra. E íamos mudando juntas, descobrindo, inclusive, os rituais de passagem para fases ainda mais misteriosas.
As mulheres povoam nosso imaginário, sustentam muitas das nossas vocações e consolidam decisões que valem uma existência. São várias as mulheres que nos inspiram e à medida que os dias viram noite, somos devedoras umas das outras pelo conjunto da obra que, no final das contas dos tempos, valerá nossa vida.
Mesmo as que só existem no mundo da ficção formam o caleidoscópio no qual, não raro, miramos sem conseguir distinguir quem são elas, quem somos nós.
Com algumas mulheres nunca trocaremos uma palavra, mas estarão lá sempre que olharmos bem no fundo do espelho da sua alma. Suas vidas se refletem em quem nós somos, no que pensamos, na forma como vivemos ou na carreira que escolhemos. E há aquelas que mesmo que conheçamos mais tarde, percebemos, nesta descoberta, espaços a serem preenchidos em nós, cuja ausência só nos damos conta quando nos espelhamos nelas.
O que aconteceria se fizéssemos um inventário amoroso das mulheres que nos impactaram? Para escrever este texto, fiz esse exercício e fiquei surpresa de quantas mulheres fui sendo, aos poucos, construída, desconstruída e novamente refeita até que algumas estimulem novas ideias, outras as questionem e assim, numa sucessão de diálogos, a vida está em constante movimento, espelhando as fases da existência em companhia de múltiplas mulheres que nos fazem diversa e única ao mesmo tempo. Para cada etapa da vida sempre haverá mulheres em quem nos veremos refletidas.
O século XXI talvez ficará conhecido como o momento de redescoberta de muitas mulheres em suas mais diversas atuações. A História das mulheres começa a ser contada e narrada por mulheres que se veem espelhadas nestas desconhecidas. Seja na ciência, nas artes, na política, nas práticas sociais cotidianas, na simplicidade da liderança transformadora, na gastronomia, na música, na literatura, no esporte.
Surpreende quantas histórias de mulheres se mantiveram submersas por tantos anos. Mas é gratificante saber que foi uma mulher, Alice G. Blaché, quem construiu e dirigiu o primeiro estúdio de cinema de Hollywood, nos Estados Unidos. No Brasil, uma mulher negra, Maria Firmina dos Reis, escreveu seu primeiro romance ainda no século XIX. É ótimo conhecer a história da cientista afro-americana Katherine Johnson, uma das principais responsáveis pela viagem do homem à Lua. No Ceará, a Cacique Pequena, da trigo Jenipapo - Kanindé, foi a primeira mulher no País a comandar uma tribo indígena.
Neste Dia Internacional Mulher, O POVO nos apresenta mulheres que nos inspiram e com quem podemos refletir nossa imagem e alma femininas.
"Sou uma mulher perfeitamente apaziguada com o tempo e em paz com toda as formas do feminino. Sou grata por ver o mundo da janela que herdei de tantas mulheres reais e ficcionais que passaram e estão passando pela minha vida."
Regina Ribeiro é jornalista e editora do O POVO
Regina Ribeiro
Jornalista e editora do O POVO
Sou uma mulher perfeitamente apaziguada com o tempo e em paz com toda as formas do feminino. Sou grata por ver o mundo da janela que herdei de tantas mulheres reais e ficcionais que passaram e estão passando pela minha vida.