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O encontro entre São Francisco e o Castanhão
Reportagem

O encontro entre São Francisco e o Castanhão

Ainda não é possível saber se o aumento de nível do Castanhão já é reflexo da chegada da água da transposição do Velho Chico. Levará dias para esse fluxo ser notado no açude
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Barragem do açude Castanhão (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Barragem do açude Castanhão

Desde o primeiro dia de março, a expectativa para a chegada das águas do Rio São Francisco ao açude Castanhão só aumenta. O mesmo acontece com o volume de água do reservatório, que vem apresentando uma crescente diária durante todos os dias do mês de março, invertendo a tendência verificada ao longo de fevereiro, segundo dados do Portal Hidrológico, da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).

Durante os nove primeiros dias deste mês, o Castanhão saiu de 10,11% para 10,32% de volume preenchido. No último dia 1º, a abertura da comporta do km 53 das obras do Cinturão das Águas do Ceará (CAC) iniciou o caminho das águas do Velho Chico até o Castanhão. Essas águas já podem até estar alimentando o açude, mas ainda não é possível ter certeza.

Situacao hidrica do Ceara
Situacao hidrica do Ceara (Foto: Situacao hidrica do Ceara)

"Já tinha água no Rio Jaguaribe vinda da quadra chuvosa no Cariri. Até que tenha um aumento relevante, ainda não é possível confirmar que essas águas são do São Francisco", explica o administrador do Castanhão por parte do Departamento de Obras Contra as Secas (Dnocs), Braulino Coelho.

O Castanhão é o maior açude do Estado, responsável pelo abastecimento de municípios do Vale do Jaguaribe e da Região Metropolitana de Fortaleza. Para Braulino, ainda não é possível cravar o momento exato em que as águas do São Francisco chegam ao reservatório.

"É provável que essa água não seja de lá. O Rio Salgado já estava com um bom nível de água. Ainda não dá para afirmar que essa água chegou aqui. Ela deve aumentar até 5 centímetros por dia (o nível do açude) quando chegar", explica.

Entre segunda-feira e ontem, o nível da água subiu três centímetros dentro do açude, o que pode indicar que a água ainda não chegou, segundo o administrador do complexo.

Confira os especiais:

À espera de Francisco

As águas de Francisco

Braulino explica que o primeiro sinal da chegada da água deve ocorrer longe das paredes do açude, na velha cidade de Jaguaribara, local que foi abandonado pelos moradores para a construção do Castanhão.

A cerca de 60 km das paredes que delimitam o açude, está a passagem de água do Rio Jaguaribe para o Castanhão. O trecho, na "cidade fantasma", a velha Jaguaribara, ainda apresenta tímida vazão de água.

No local, o professor universitário e médico Odorico Moraes tem aproveitado a pandemia e o distanciamento do trabalho para fazer observações.

"Ontem (segunda), fui informado que faltavam 30 km para as águas do São Francisco chegarem ao Castanhão. Se isso realmente acontecer, teremos um aumento do volume da lâmina de água que passa por aqui. Assim teremos certeza de que a água estará começando a chegar, já que não está chovendo nas cabeceiras do Rio Salgado", conta Moraes, cujo interesse por Jaguaribara é fruto da paixão pela pesca. Frequentador da cidade desde 2006, Moraes tem feito registros na região que apontam uma diminuição na vazão de água desde a última sexta-feira, 5.

Até as águas do São Francisco chegarem ao açude Castanhão, elas percorrem um longo caminho passando pelo Riacho Seco, o Rio Salgado e o Rio Jaguaribe. No percurso, estão instaladas 14 seções de medição de vazão, que ajudam no monitoramento do percurso. "As seções estão instaladas em pontos estratégicos, como em passagens molhadas e embaixo de pontes, pois são locais de mais instabilidade, nos quais a água consegue ficar mais "plana", ajudando na maior exatidão da informação", explica o secretário dos Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira.

Segundo o monitoramento, até esta terça-feira, 9, as águas já haviam percorrido um total de 274km dos 300km que separavam as águas do Velho Chico do Açude Castanhão.

A perspectiva de chegada da transposição anima Francisco Maurício, o Chico da Emília, 68 anos. "Desde de 2004 tô esperando isso. Eu nunca saí daqui. Fiquei aqui, toda vida. Me lembro disso cheio de água. Tendo água aqui, a gente planta um capim na terra. Água é riqueza."

 

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