Há um ano, entrava em vigor decreto do governador Camilo Santana (PT) que restringia, pela 1ª vez, regras de circulação de pessoas e de funcionamento da economia no Ceará. Na época, o Estado vivia a primeira semana da chegada da pandemia de Covid-19, com casos confirmados da doença passando de zero para 55 em apenas seis dias. Dois meses depois, em 20 de maio, o Ceará entraria em regime de lockdown.
"Sei que essas medidas são duras, mas necessárias para retardar a contaminação do vírus aqui no Ceará", dizia, à época, o governador. Ainda que sejam comuns em países de todo o mundo, medidas de isolamento social seguem dividindo opiniões no Brasil e no Ceará, mesmo um ano após o início da crise sanitária no País. Atualmente, o Estado soma quase 500 mil casos confirmados de Covid-19, com 12,8 mil óbitos.
Para defensores do isolamento, a divisão em torno do tema ocorre, em boa parte, pela influência de Jair Bolsonaro. Desde os primeiros decretos do tipo, o presidente tem minimizado a doença, estimulado aglomerações e, se arvorando na necessidade de poupar a economia, criticado medidas que tentem restringir a circulação de pessoas. Para boa parte da comunidade científica, no entanto, a polêmica nem deveria existir.
"É simples de entender: As pessoas não podem estar agrupadas convivendo, porque uma contamina cinco, que vão contaminar, 10, 15, 2, o que for. Todos os dias, nós temos três mil pessoas morrendo no Brasil pelo Covid. São 20 boeings caindo diariamente. Não há outra saída senão o isolamento", diz o médico e deputado Heitor Férrer (SD). Mesmo opositor de Camilo, ele tem se destacado como defensor das medidas do governo.
Do outro lado do debate político, ocupam espaço de críticas da medida justamente os parlamentares cearenses mais próximos de Jair Bolsonaro no Estado - como os deputados estaduais André Fernandes (Republicanos) e Delegado Cavalcante (PSL). No fim de semana passado, Fernandes inclusive protagonizou conflito entre manifestantes contra o lockdown no Estado e policiais militares, em imagens que correram a Internet.
Em maio de 2020, o deputado publicou nas redes sociais que o secretário da Saúde do Estado, Cabeto Martins, teria envolvimento em um esquema com o objetivo de "superfaturar" número de mortos pelo Covid por meio da falsificação de certidões de óbito. Comum em 2020, a tese dos números forjados, no entanto, foi perdendo - com a escalada dos números da doença - espaço no repertório de críticos do isolamento.
No lugar dela, ganhou protagonismo a tese de que a crise teria solução muito mais simples, com a adoção do chamado "tratamento precoce", que prevê a prescrição de uma série de medicamentos contra a Covid-19. "É simples, barato, evitando o agravamento da infecção e reduzindo muito a necessidade da internação hospitalar", diz o senador Eduardo Girão (Podemos).
Defensores do isolamento, no entanto, destacam que os remédios não possuem eficácia comprovada contra a doença e já são utilizados amplamente no Estado, sobretudo na rede privada, e que os números da pandemia seguem crescendo em ritmo acelerado.