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"Olhem para nós como alguém que conhece este assunto"
Reportagem

"Olhem para nós como alguém que conhece este assunto"

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Tipo Notícia

Uma das maiores empresas de geração de energia do planeta e cuja expertise também envolve o hidrogênio verde, a EDP afirmou com exclusividade ao O POVO o interesse em fazer parte do hub lançado pelo Governo do Ceará. De Portugal, sua terra natal e onde passa uma temporada, o presidente João Marques da Cruz concedeu a primeira entrevista desde janeiro, quando assumiu o cargo, e destacou as características cearenses, apontando o Estado
como o mais apropriado no mundo
para este tipo de projeto.

O POVO - Como a EDP projeta o H2 nos planos de produção da companhia e qual avaliação faz do projeto do Ceará?

João Marques da Cruz - O hidrogênio é sem dúvida o gás do futuro em termos energéticos, porque o hidrogênio tem a grande vantagem de, quando queimado, não emitir nenhum carbono. 70% do valor econômico do hidrogênio é energia. É o grande insumo. Daí, se nós produzimos hidrogênio de energia renovável, temos então um céu de hidrogênio verde. Se observarmos o mapa solar do mundo, ou seja, quais as melhores áreas do mundo em termos de energia solar, veremos que o Nordeste do Brasil e, em particular, o Ceará tem as melhores fontes de sol para efeito de energia solar no mundo. Por outro lado, a localização geográfica, porque o hidrogênio deve ser pensado também numa ótica de exportação, e o Ceará está mais próximo dos mercados do Norte e da Europa.

OP - A EDP pretende compensar o uso do carvão na térmica do Pecém investido no hub de hidrogênio verde?

João Marques - A térmica a carvão que nós temos tem um contrato PPA (contrato de compra de energia, sigla do inglês power purchase agrement) válido até 2027 e nós pretendemos continuar a servir o Ceará com essa usina a carvão para além de 2027. Agora, entendemos também, que uma usina a carvão tem uma "pegada ambiental" de emissões de carbono. Então, é uma descompensação: para continuarmos a produzir eletricidade através de uma térmica a carvão, a EDP está disponível para investir também em hidrogênio no Estado e na zona do Porto do Pecém.

OP - E como se dá o planejamento da EDP para o investimento no hidrogênio aqui no Ceará? Já tem um desenho disso?

João Marques - Um projeto desta natureza tem que ter o apoio de entidades públicas ao nível estadual e federal, porque estes contratos de venda de energia da nossa usina são ao nível federal. Nós já apresentamos ao senhor ministro (Bento Albuquerque, de Minas e Energia) esta nossa intenção. Ou seja, nosso desejo, duplo, de alargar o contrato de venda de energia da usina de carvão e o desejo de investir numa usina que produz é hidrogênio.

OP - E quais seriam os incentivos ou o
apoio que tanto o Governo Federal quanto
o Governo do Estado dariam que
estimulariam a EDP nesse cenário?

João Marques - Duas questões são muito importantes a serem resolvidas. A primeira é essa da extensão do contrato de produção de eletricidade da usina de Pecém. A segunda questão é uma questão muito importante, são as condições econômicas da exportação do hidrogênio. O hidrogênio verde é hoje, muito mais caro do que o hidrogênio não-verde. Por isso, tem de existir um sistema de compensação internacional, através de emissões de certificados ou outros
modelos técnicos. Mas que torne economicamente viável os investimentos em hidrogênio verde. Para isso é essencial, o envolvimento dos estados. Digamos que o hidrogênio produzido no Ceará tenha um certificado garantindo a produção de fonte renovável tem um valor que o consumidor nos Estados Unidos, na Europa, paga.

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