Para que sejam traçadas políticas públicas de combate ao desemprego que atinge a juventude, o conhecimento preciso da realidade dos números é fundamental.
Contudo, duas das principais fontes de estatísticas sobre o mercado de trabalho passaram por mudanças de metodologia em 2020 e, segundo especialistas na temática, isso têm dificultado essa compreensão.
As mais polêmicas dentre essas mudanças ocorreram no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que passou a ser feita por meio do Sistema de Escrituração Fiscal Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas, o chamado eSocial, desde o início do governo Jair Bolsonaro. Antes, costumava ser divulgado mensalmente pelo Ministério da Economia.
Porém, entre os meses de fevereiro e maio do ano passado a publicação deixou de ser feita. Na época, a Pasta alegou subnotificação no número de desligamentos e afirmou que passaria a utilizar dados do sistema Empregador Web, que indica as solicitações de seguro-desemprego de trabalhadores demitidos. Além dessa modificação, o Caged passou a computar os bolsistas e os trabalhadores temporários, notificação que passou a ser obrigatória para as empresas.
Para Erle Mesquita, analista de mercado de trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), "infelizmente o Caged teve essa mudança brusca que foi anunciada como uma forma de simplificar a vida do empregador. Ele antes tinha dezesseis procedimentos a realizar e teoricamente passou a ter só um. O problema é que com isso, em primeiro lugar, ficou impossível fazer comparações com a série histórica. Além disso, quando passa a incluir outras ocupações, que não entravam antes, a gente não consegue diferenciar, no curto prazo, o que houve de aumento real nos números de emprego no País".
Já no caso da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a principal mudança foi a realização por telefone da coleta de informações. Como efeito imediato, alguns aspectos que eram levantados até março do ano passado deixaram de ser considerados, tais como as pesquisas de desemprego, por faixa etária, em cada uma das 27 unidades federativas brasileiras.