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O que está por trás da mudança de hábitos do cearense
Reportagem

O que está por trás da mudança de hábitos do cearense

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As medidas de isolamento e a comodidade que veio do forte movimento de digitalização de produtos e serviços explicam em parte o comportamento do consumidor. Mas, fatores como instabilidade no mercado de trabalho; perda de renda; dólar alto; e inflação também devem seguir pressionando e moldando o consumo daqui para frente. É o que explica o economista Fábio Castelo Branco, membro do Conselho Regional de Economia (Corecon).

Ele dá como exemplo a questão do peso da inflação sobre o ticket médio de setores como o da alimentação. "O consumidor acaba fazendo escolhas que façam sentido para ele. No supermercado, ao invés de levar uma manteiga, que está mais cara, ele leva uma margarina; se o arroz subiu muito, ele compra o macarrão. Mas mesmo com todo esse malabarismo, ele ainda está pagando mais caro por itens de primeira necessidade. O que o faz abrir mão de outros gastos que são considerados por ele menos essenciais".

E esse é um fator que segue com viés de alta. A inflação dos últimos 12 meses fechou em 6,10%. Bem acima da inflação do ano de 2020 que foi de 4,52%.

Há ainda a questão da renda. Uma pesquisa da EY Future Consumer Index, estudo global realizado pela EY-Parthenon, que consultou pouco mais de mil brasileiros entre os meses de junho e julho do ano passado, mostrou que 97% dos entrevistados declararam estar preocupados com a economia do Brasil, mostrando que a situação econômica aflige mais do que questões ligadas à saúde, que foi o segundo motivo de preocupação entre os fatores analisados.

"É diferente do que se viu no começo da pandemia, quando a principal preocupação das pessoas era a questão da saúde", explica Miguel Duarte, sócio da EY-Parthenon e líder do segmento de Consumo, Produtos e Varejo para América Latina.

Ele destaca ainda que, um traço importante identificado nesta crise foi o agravamento das diferenças sociais. O que também acaba se refletindo nas prioridades e na tomada de decisão.

Mas, de modo geral, há uma preocupação com a forma com que o dinheiro é gasto. "Quando fizemos os estudos, 58% dos respondentes disseram que vão dar mais atenção aos gastos no longo prazo. A questão do preço será cada vez mais importante. Mas não quer dizer que as pessoas só vão consumir o que for mais barato, e sim, a de que há, de forma clara, uma tendência de maior racionalização do consumo".

Neste contexto, a qualidade do produto/serviço, por exemplo, ganhou importância para 74% dos entrevistados, enquanto a saudabilidade (tendência à alimentação e a hábitos saudáveis) tornou-se mais relevante para 76%. Com as restrições à circulação de pessoas e o aumento da disposição de compra em canais on-line, a possibilidade de entrega dos pedidos ganhou importância para 68% dos consumidores e a disponibilidade dos produtos, para 68%.

"As pessoas vão avaliar melhor suas escolhas, fazer menos compras impulsivas, dar mais importância para escolhas de produtos que melhorem a sua saúde e bem estar. E também ao papel das marcas no mercado, o que a gente percebe é uma reflexão maior por parte do consumidor sobre o que a empresa está entregando para ele e para a sociedade".

 

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