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As dificuldades e adaptações diante da pandemia
Reportagem

As dificuldades e adaptações diante da pandemia

ISOLAMENTO
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Ana Karynne e a filha, Mariana. O artesanato em crochê é, além de fonte de renda, forma de desenvolvimento de habilidades e de interação entre mãe e filha
 (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Ana Karynne e a filha, Mariana. O artesanato em crochê é, além de fonte de renda, forma de desenvolvimento de habilidades e de interação entre mãe e filha

As dificuldades de interação social e a necessidade de evitar ambientes desconhecidos ou lotados podem levar o senso comum a acreditar que a pandemia de Covid-19 trouxe poucas implicações ao cotidiano de autistas. Esse é um engano. As quebras de rotina e as adaptações exigidas pelo isolamento social impactaram de formas particulares no dia a dia.

"Nossa maior dificuldade foi que a sensibilidade auditiva da Mariana impossibilitou que ela assistisse à aula online. Ela não consegue lidar com todas aquelas crianças ao mesmo tempo na frente dela na tela, ela tem crises de ansiedade", conta Ana Karynne. "Eu recebo o material da escola, adapto o conteúdo e ela faz as atividades ao longo do dia."

Ela expõe ainda que a preservação em relação ao exterior está sendo contrabalanceada pelos desafios caseiros. "Eu despendia muita energia interagindo com as pessoas e até dirigindo. Mas toda essa energia, estou usando dentro de casa para tentar manter a rotina da Mariana e ela não perca habilidades." A artesã lamenta ainda a impossibilidade de ter válvulas de escape externas para momentos de crise, tanto da filha quanto dela mesma.

Para os jovens, as dificuldades também chegaram. "Antes, para estudar eu precisava ir aos lugares, tinha um ônibus que sempre pegava, tinha uma rotina fixa. Para mim, a rotina é muito importante para eu me sentir segura", aponta a estudante de Medicina Victoria Virginio, para quem ser autista é "ser de forma inata alguém fora da caixa".

"No começo, foi um susto essa transição; ainda estou me adaptando. Mas, ao menos, não sofro tanto com o isolamento social. As dificuldades são com certeza a incerteza do tempo que a gente está vivendo e a insegurança de não ter a mesma rotina de antes", diz ainda.

É o que também relata um jovem autista de 21 anos que prefere não se identificar. Ele afirma que as idas à faculdade e as saídas com amigos fazem falta. "Eu sou mais isolado que as demais pessoas, mas esse isolamento forçado está me afetando mesmo assim", pontua. Para ele, o convívio direto com os familiares é outro impacto negativo. "Ficar com minha família 24 horas por dia está me afetando. Por isso, eu só fico o dia inteiro trancado no quarto, pra evitar eles."

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