O POVO - O que é ser autista?
Alexandre Mapurunga - Geralmente, se pensa que ser autista é uma coisa absoluta ou fechada nos graus. As pessoas autistas vivem em diversos contextos, com suas subjetividades, suas preferências. Ela é uma pessoa e ser autista é uma das suas características importantes, assim como ser mulher, ser brasileiro.
OP - Fala-se de duas perspectivas para encarar o autismo, a perspectiva médica e a perspectiva social. Como o senhor exemplifica isso?
Alexandre - A gente pode olhar para um garoto autista que teve sua matrícula recusada na escola e dizer assim: "Olha, que pena, não estuda porque é autista" ou dizer: "Que absurdo, não estuda porque a escola discrimina". De um jeito você está colocando a culpa na pessoa por ser quem ela é; do outro, está demandando da sociedade que faça as mudanças para acolher e aceitar. A gente teve pouca oportunidade de ser ouvido. A voz predominante é dos médicos e dos pais, geralmente falando do autismo como um transtorno, como algo que atrapalha a vida da sociedade. Sendo que o que atrapalha a vida do indivíduo são os preconceitos, é a falta de apoio, é a sociedade capacitista, é viver em um lugar que não fornece as ferramentas para existir plenamente com a sua condição.
OP - Quais são os acompanhamentos médicos possíveis e necessários?
Alexandre - É apoio para que as pessoas possam desenvolver suas capacidades ao máximo. Se algum profissional está querendo promover uma solução que diga que vai reverter o autismo é picaretagem. O autismo é inato à pessoa e faz parte da condição natural do indivíduo. Querer tirar a pessoa do espectro é não respeitar a natureza daquele indivíduo. O que é importante são terapias para ajudar a pessoa a se entender, a se autorregular, a ampliar suas capacidades de estar no mundo.
Alexandre Mapurunga é autista, diretor-técnico da Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas Autistas (Abraça) e assessor-técnico da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Ceará