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Há um debate sobre o ano: 2021 ou 2022?
Reportagem

Há um debate sobre o ano: 2021 ou 2022?

| IDEIAS | Especialistas ouvidos por O POVO contrastam visões e argumentos sobre o ano ideal para que o Censo Demográfico de fato seja realizado
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Todos os especialistas que foram escutados por O POVO concordam que o Censo Demográfico já deveria ter sido realizado. E, como não foi, deve ser em algum momento. Mas existem dois argumentos diametralmente opostos atualmente que versam sobre quando ele deve ocorrer: 2021 ou 2022?

Quem defende que a operação ocorra neste ano argumenta que a pandemia, embora ainda em curso e um cenário crítico, já é uma adversária contra a qual se possui algum nível de conhecimento e, portanto, os cuidados podem ser tomados. Abrindo-se também a perspectiva de um trabalho híbrido - com entrevistas físicas, online e telefônicas.

Há ainda o entendimento de que, se este ano é de incertezas, nada assegura que o próximo seja de bonanças para os cofres do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É como a pesquisadora e demógrafa Suzana Cavenaghi se posiciona neste debate.

Ela sublinha que eventos com maior potencial de aglomeração, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), foram promovidos. "A gente está sujeito a intempéries a todo momento. Em 2020, quando foi cancelado o Censo por causa da pandemia, não se conhecia a letalidade, a vacina, conhecimentos sobre a transmissão", afirma Cavenaghi.

Ela sustenta que para que uma instituição tenha credibilidade, mesmo quando associada a governos, é necessário que haja autonomia. Se vai ser independente com o dinheiro que vem do Governo Federal, ela segue, é necessário que haja calendário, pois a pesquisa será feita, com o momento político sendo favorável ou não.

"O IBGE até ganhou credibilidade (em 2020) porque foi colocado que era a pandemia. Este ano, qual vai ser o motivo colocado para não realização? Não tem orçamento. Não pode usar a pandemia como desculpa. Então, se tem o orçamento, tem que cumprir o calendário", argumenta.

Ela contrapõe a ideia de que o questionário tem de ser transformado, com a inserção de questões sobre a Covid-19. "Se quiser, pode dizer se morreu de Covid ou não. Mas não pode confiar no que as pessoas falam, mas no atestado de óbito. Está registrado no banco de dados do Ministério da Saúde, chama SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade)", afirma.

Co-autora do livro "A quem importa saber?: A economia política da capacidade estatística na América Latina", Gabriela Lotta observa que o planejamento está atrasado, pois não contrataram pessoas, não foram feitos testes e faltam licitações.

"O questionário foi muito cortado e teria que ser revisto agora para contemplar perguntas da pandemia", sob pena de que o resultado final seja ruim, afirma Lotta.

Concorda com ela Roberto Olinto, ex-presidente do IBGE. Para ele, a coleta da informação em 2022 seria mais qualificada. "Ao que tudo indica você estaria com a população vacinada e já num momento mais estável, não nessa confusão atual reinante, com pessoas ainda impactadas, fora de suas residências, muitas pessoas saíram das suas cidades", ele reforça. (Carlos Holanda)

 

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