Sede dos espaços geográficos com maior potencial de desenvolvimento em energias renováveis no Brasil, inclusive com grandiosos investimentos privados no setor, o Nordeste também apresenta o contraste de possuir pouco mais de 10% das 3.087 usinas termelétricas em operação no Brasil. Já a potência outorgada e fiscalizada na Região é 25,9% do total produzido pela modalidade térmica, de acordo com dados do Sistema de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Mesmo com tamanha capacidade instalada, a Região é uma das prioridades no texto que visa garantir a ampliação da ação das térmicas movidas a gás.
O Ceará é um exemplo de como essa produção, baseada nas usinas térmicas, pode ser controversa. O Estado é o principal produtor de energia com base em termelétricas, a produção é tamanha que é exportada para o sistema nacional. Mais cara e danosa ao meio ambiente, a atuação dessa fonte de geração já chegou a produzir 12.036 GW/h de energia no auge da crise energética mais recente, em 2014, quando a seca prolongada nos sistemas de abastecimentos de hidrelétricas obrigou o reforço do uso das térmicas. O estado nordestino mais próximo dessa soma foi Pernambuco, com 9.471 GW/h. Os dados são do Operador Nacional do Sistema (ONS).
Hoje, essa produção diminuiu por causa da maior estabilidade hídrica, ainda assim, a média de produção neste início de 2021 chega a 1.985 GW/h, concentrando ainda a liderança regional desse tipo de produção energética. No recorte local destacando o tipo de usina e o combustível utilizado na produção de energia, as térmicas que geram energia pro ONS são, em sua ampla maioria, formadas por produções oriundas de combustíveis mais fósseis, como é o caso do carvão mineral, óleo combustível, óleo diesel e resíduos industriais. Essa parcela representa um total de 1.528 MW/h do total.
No caso da produção de térmicas movida a gás natural, temos os casos da TermoCeará, que abastece a Petrobras, e a TermoFortaleza, da Enel, com capacidade de produção de 346 MW. Vale destacar que a segunda, durante as análises da revisão tarifária da energia elétrica em 2021, foi alvo de críticas por parte dos representantes dos setores econômicos e consumidores perante a Aneel por prender o consumidor cearense a um contrato com valores defasados e firmado no período da crise dos apagões, em 2002.
Outra base de dados que analisa o movimento de emissões de gases do efeito estufa, a plataforma Sistema de Estimativa de Emissões de Gases (SEEG), uma iniciativa do Observatório do Clima, permite a análise direcionada para a cidade cearense de São Gonçalo do Amarante. O município que sedia o Complexo Industrial e Portuário do Pecém praticamente não emitia CO² proveniente da queima de combustíveis entre 2000 e 2012.
Porém, a partir de 2013, os números dispararam depois do início da operação do complexo termelétrico Porto do Pecém I, com potência outorgada de 720.274 kW e que funciona a partir da queima de carvão mineral. A emissão da cidade saltou de 192.966 mil toneladas de CO² para 2,273 milhões de toneladas de CO², entre 2012 e 2013.
No auge das emissões de gases, São Gonçalo do Amarante já produziu, somente em 2017, o montante de 5,742 milhões de toneladas de CO².