As teorias da conspiração não são mera distração ou diversionismo, mas uma ameaça para a democracia, alerta Guilherme Casarões, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"O conspiracionismo científico é um risco para as instituições, sobretudo porque a promoção política de teses conspiratórias ameaça a reputação de universidades, gestores públicos e políticos", avalia o pesquisador, que coordena um laboratório de observação da extrema-direita no país.
Segundo ele, essas teses geram uma "desconfiança popular que compromete, no longo prazo, a implementação de políticas públicas baseadas em evidências".
Em artigo publicado recentemente, Casarões estuda o que ele classifica de "aliança da hidroxicloroquina", um grupo de "líderes populistas de extrema direita que optou por promover uma 'cura milagrosa' em lugar de políticas públicas de enfrentamento à pandemia".
Na pesquisa, conta Casarões, foram identificadas quatro líderes: o presidente Jair Bolsonaro, o ex-presidente dos EUA Donald Trump e os primeiros-ministros Narendra Modi, da Índia, e Benjamin Netanyahu, de Israel.
"Estudamos, em particular, os casos de Brasil e Estados Unidos, cujos presidentes continuaram propagandeando a hidroxicloroquina mesmo depois dos primeiros estudos que atestavam sua ineficácia", fala Casarões. "Trump ainda abandonou o assunto às vésperas das eleições de novembro de 2020, mas Bolsonaro segue insistindo no remédio como parte da política de 'tratamento precoce' defendido pelo governo."
O pesquisador reflete que há três razões para que o governo ainda não tenha desistido da teoria da conspiração por trás da cloroquina. "A primeira", enumera, "diretamente ligada ao populismo, diz respeito à necessidade de Bolsonaro de oferecer soluções simples, diretas e acessíveis para problemas complexos".
A segunda razão é econômica e "sustentada pela difusão do kit Covid" ante "a paralisação da economia ou a aquisição de vacinas".
E, por fim, temos uma questão ideológica. "O apoio ao bolsonarismo fez com que se unisse em seu entorno", advoga o estudioso, "um grupo de influenciadores, jornalistas, médicos, empresários, políticos e lideranças religiosas que defendem a cloroquina de maneira igualmente incondicional". (Henrique Araújo)