"É importante que a gente entenda a escola como recurso para desenvolvimento humano e social. Além disso, é fator de proteção social para crianças e adolescentes", enfatiza Ticiana Santiago, doutora em Educação Brasileira e psicóloga. Ela compreende que o formato remoto "não deu conta e nem poderia dar desse papel, uma vez que a ideia da educação é a construção de vínculos."
Diante disso, uma das principais preocupações de especialistas é que a evasão escolar aumente. Conforme o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a pandemia levou 4 milhões de crianças e jovens brasileiros se afastarem das escolas. Em Fortaleza, a SME afirma que dados preliminares apontam uma taxa de abandono de 0,1% em 2020. Em 2019, os dados oficiais do Censo Escolar indicaram a taxa de 0,4%. Questionada sobre a situação no Estado, a Seduc afirma que "os dados de abandono relativos aos anos de 2020 e 2021 ainda não foram divulgados pelo Inep/MEC".
Ticiana chama atenção para os dois polos da Educação Básica, os quais, ela aponta, serão os principais núcleos a demandar suporte após a pandemia. "Na Educação Infantil, esse contato presencial com as práticas lúdicas, a psicomotricidade, a interação foi muito prejudicado", explica. Já os adolescentes do Ensino Médio e os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) também perderam pela falta de contatos, pela sensação de desamparo e por sobretarefa — aspectos que recaem também sobre professores.
"Nesse momento, para além dos conteúdos, a escola precisa cuidar de preservar os vínculos. Dar suporte psicossocial ao estudante, à família e aos professores", opina. "Resgatar as famílias, trabalhar com as múltiplas linguagens, ouvir os grupos reivindicatórios. Por mais que seja um grande nó, onde estão recaindo grandes desafios desse contexto, a Educação também pode fornecer as grandes soluções".