O mercado de audiovisual no Brasil é difícil, já diriam os grandes e bem estruturados players do setor. Imagine para um grupo de jovens da periferia de Fortaleza... Mas foi em meio a esse cenário que nasceu, em 2019, a Vetinflix, que é a confluência de vários trabalhos e histórias, define o influenciador digital, produtor audiovisual e um dos fundadores do projeto, Leo Suricate.
Vetinflix se tornou um selo independente de audiovisual com um conjunto de iniciativas de produção de conteúdo, que envolve jovens da periferia com formações em publicidade, audiovisual e agregados, mais ligados às redes sociais. O sucesso veio em 2020, quando o projeto La Casa Du’z Vetin tomou forma.
Leo Suricate conta que superar o estigma de "pirangueiro" e que a arte não é profissão para o morador da "quebrada" são desafios superados com muita força de vontade.
Ele conta que uma batida policial no conjunto habitacional José Euclides, no Jangurussu, em que PMs arrombaram a porta da Vetinflix, motivou o grupo a buscar estreitar os laços com o Estado, cobrando ações afirmativas para a comunidade.
A conversa gerou um broto a ser regado, o plano de formar uma Zona Franca de Arte, Cultura e Tecnologia, que abrange os diversos conjuntos no Grande Jangurussu. A ideia começa com o grupo ensinando a outros empreendedores como utilizar redes sociais, assim como a juventude aprende sobre recursos da produção audiovisual.
Ainda assim, Leo reconhece os desafios. "Os editais existem, mas sabemos que quem sempre tem mais condições é o que chamamos de elite cultural da Cidade. Então a periferia está se mobilizando com formação, aprendendo a produção de conteúdo, a atuar, filmar, dirigir. Vamos mostrando essas soluções para as pessoas que audiovisual é profissão", afirma.
O esforço do grupo - agora rumo ao estrelado, mas sem perder as raízes - proporcionou a possibilidade de um projeto em parceria com a Globo após concorrer com outros 40 a 50 roteiros. Será um telefilme produzido pela Globo Filmes que será exibido TV aberta, com direção artística de Selton Mello. A ideia do roteiro é pregar os valores da periferia e a relação com as redes sociais.
"Para nós é um carimbo de que conseguimos, que vai mudar nossa vida de verdade. Esse carimbo é para aquela parte da nossa própria cidade que nos delegava à sub-cultura, sub-produção, que era legal, mas não era profissional. Passamos do 'não vai dar certo', 'isso é loucura', para 'qual a próxima loucura que vocês vão produzir?'", afirma Leo.