O Telegram se configurou num refúgio da extrema-direita em vários cantos do mundo, inclusive no Brasil. Enquanto o WhatsApp comporta 256 contas por grupo, o teto do Telegram é de 200 mil. Isto significa que os conteúdos têm mais alcance com menos tempo e esforço.
Longe de regras mais rígidas de fiscalização sobre a veracidade do que é publicado, o fluxo de conteúdos corre mais solto no aplicativo de mensagens instantâneas. Outra diferença em relação ao WhatsApp é que este adotou limite de vezes em que mesma mensagem pode ser encaminhada, procedimento inexistente no concorrente.
O Instagram, por exemplo, já emitiu sinal de alerta contra postagem do presidente em 29 de abril de 2020 por uma postagem falsa contra o jornal El País. "O desespero do sistema é a descentralização da informação. Informação barata. Vão tentar censurar, mas a era dos aplicativos descentralizados está chegando", diz o "Bolsonaro Presidente".
É um dos maiores grupos em apoio ao mandatário, com mais de 11,4 mil membros. O "Direita Rio de Janeiro", também dos mais lotados por bolsonaristas, contabiliza 5,08 mil membros. O POVO entrou nos dois grupos para acompanhar como as contas apoiadoras do presidente agiram numa semana especialmente adversa para o líder.
São mensagens de apoio ao presidente, contra o Supremo Tribunal Federal (STF), sobretudo após a decisão pela suspeição de Sergio Moro, em benefício do ex-presidente Lula (PT).
Pregação contra vacinas e máscaras também são pulsantes, seguindo a linha discursiva do presidente. A lógica que predomina é o das mensagens enfileiradas, sem que haja relação direta entre uma e outra. Raras vezes há diálogo entre os membros.
No "Bolsonaro Presidente", às 21h40min do último dia 24, um texto em ataque à Rede Globo, estruturado como corrente de WhatsApp, mostra um e-mail supostamente enviada por uma mulher de nome Simone Ramos.
"Nota-se claramente a intenção nociva de denegrir, desacreditar e criar um ambiente hostil ao redor do Presidente e dos seus, e isto me causa profunda vergonha", escreve "Simone". A mensagem termina pedindo 50 mil compartilhamentos em duas horas.
No "Direita Rio de Janeiro", o teste positivo para Covid-19 do senador José Serra (PSDB-SP) se transformou em um link travestido de matéria jornalística. "Senador José Serra mesmo vacinado com duas doses é internado com covid-19", anuncia a manchete, dando a entender a imunização do tucano não adiantou, pois as vacinas seriam ineficazes. De fato, Serra foi internado, mas de modo preventivo. O político de 79 anos está assintomático, segundo assessoria de imprensa.
Curiosamente, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF), que depôs à CPI na última sexta-feira, tem o passado explorado por meio de série de trechos matérias da... TV Globo.
No "Direita Rio", um áudio foi enviado por um homem de voz estridente que anuncia, sem citar fontes: "Se você procurar os preços, pelo que eu pesquisei de preços de vacina, da Moderna, da Pfizer, da Coronavac, da Sputnik V, da Astrazeneca, sinceramente, nunca que essa vacina da Pfizer é mais barata que a da Covaxin."