Logo O POVO+
Mas se vender os Correios, o serviço melhora?
Reportagem

Mas se vender os Correios, o serviço melhora?

Especialistas divergem
Edição Impressa
Tipo Notícia

Sobre a melhora dos serviços prestados pelos Correios atualmente, os especialistas são unânimes em afirmar que isso vai depender muito de como ficarão os pontos que ainda estão em aberto no modelo de privatização. Mas, para os defensores da medida, como o consultor em logística, Roger Couto Maia, com a privatização, são grandes as chances dos serviços de entrega darem um salto em modernização, como ocorreu com o serviço de telefonia.

"Acredito que, com os investimentos privados em tecnologia e a capilaridade que os Correios têm, poderemos ter um tempo menor de processamento de pedidos, uma maior velocidade na entrega e redução de custos. E com o crescimento do e-commerce isso é essencial porque hoje a grande briga é pela entrega mais rápida. E os Correios, como é hoje, não conseguem entrar na disputa com um Magazine Luiza da vida, por exemplo, que em alguns lugares já fala em entrega em uma hora".

Sem o engessamento do poder público, o engenheiro Antonio Wrobleski avalia que poderá ter avanço não apenas em tecnologia, mas também em processos. "Hoje nos Correios ainda se preenche etiqueta à mão, ninguém mais faz isso. Com mais tecnologia é possível melhorar o rastreamento da carga e revisar a metodologia de trabalho para ganhar mais eficiência. Por que hoje um veículo que sai para fazer distribuição não pode também ajustar a rota para fazer coleta? São processos que podem levar a um custo menor de operação"

Mas o economista Renato Chaim se preocupa com o comprometimento da função social dos Correios. "São os preços dos Correios que ajudam a puxar para baixo o frete das demais empresas. Além disso, locais considerados pouco lucrativos, na prática, podem ser pouco ou mal atendidos".

Lembra ainda que, de forma prática, há muitos desafios em relação aos prazos de entrega que devem permanecer, independente de quem estiver à frente da empresa. Cita, por exemplo, uma queixa muito comum entre os usuários que é a de que os Correios deixaram de entregar o produto em determinada área, geralmente, considerada de risco, deixando apenas a mensagem "Tentativa de entrega falhou - destinatário ausente", ainda que isso não proceda.

Ou quando a compra internacional fica muito tempo "parada em Curitiba". Ele diz que neste caso em específico, é porque as compras internacionais ao entrarem no Brasil precisam primeiro passar pela Alfândega da Receita Federal, que fica em Curitiba. Ou seja, neste caso, embora no status da encomenda conste que o produto está "parado", na verdade, não é "por culpa" ou "ineficiência" dos Correios, mas porque aquela entrega está sob análise de outro órgão.

"A demora na entrega, muitas vezes, está relacionada à infraestrutura dos modais brasileiros, à questão da segurança pública ou mesmo à capacidade aduaneira. A própria Covid-19 reduziu a capacidade aduaneira nos portos, o que traz impacto não apenas para os Correios, mas para toda e qualquer empresa de logística. E isso é algo que não vai mudar com a privatização".

O que você achou desse conteúdo?