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Dados não trazem dimensão da precariedade, mesmo com esforço dos professores
Reportagem

Dados não trazem dimensão da precariedade, mesmo com esforço dos professores

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Reginaldo Silva, coordenador de Advocacy da ONG Visão Mundial, responsável pela pesquisa "A Voz dos Alunos"

O POVO - Como ter um retorno seguro às aulas presenciais na rede pública?

Reginaldo Silva - O retorno seguro depende muito do investimento público para isso. É preciso espaço adequado, que possibilite distanciamento social. Além do espaço físico, é necessário que haja suporte para as famílias adquirirem kits de proteção. Produtos de limpeza precisam estar na escola e nas casas dos alunos.

OP - Quais os impactos dos cortes orçamentários na educação, nesse cenário?

Reginaldo - Esse é um dos maiores impactos. Houve cortes na área da educação nesse período, com medidas relacionadas à pandemia, teto de gastos e reduziu um valor muito alto da educação. A gente precisa de investimento, não existe retorno seguro sem investimento público pra isso.

OP - De que forma a saúde mental das crianças é um desafio?

Reginaldo - As crianças estão muito preocupadas com o retorno das aulas. É preciso olhar de maneira integral para essa criança, reconhecendo um ser que foi altamente impactado pela pandemia. Crianças acostumadas com o convívio, brincadeira, relações com outras crianças. É preciso pensar a aprendizagem, mas também o apoio psicológico para essa volta ao convívio e essa ansiedade presente nessas crianças. Nós escutamos muitas crianças e elas disseram em sua maioria que tinha o acompanhamento dos professores, pelo Whatsapp, mas esse acompanhamento é precário. Ouvimos crianças que só tinham um celular em casa e para fazer as tarefas, assistir aula, tinham de esperar o pai voltar para casa à noite. Esses dados, quando são apenas números, não trazem a dimensão da precariedade desse ensino a distância, mesmo com todo esforço dos professores. A Prefeitura de Fortaleza tem ajudado com alimentação, mas não chega em todos, porque uma parte das crianças disseram na pesquisa que passaram fome. Quando a gente entrevistava, algumas crianças respondiam que estavam assistindo aula pelo Whatsapp. Não tem como fazer isso, principalmente, no caso de quem utiliza celular com conexão de dados. Esses dados acabam e esses alunos chegam a ficar 15 dias sem acesso. Outra coisa importante, é preciso dar atenção aos professores e capacitação para a utilização das ferramentas tecnológicas.

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