Quando nasceu o Plano Real, o salário mínimo no Brasil era de R$ 64,79 em julho de 1994. De acordo com cálculos feitos pelo supervisor técnico do Dieese no Ceará, Reginaldo Aguiar, se esse valor tivesse sido reposto somente pela inflação, o salário mínimo de hoje seria de aproximadamente R$ 450. Por isso, ele levanta o questionamento: "A pergunta que fica é que País nós teríamos pagando R$ 450 de salário?"

Ele ainda acrescenta que a política de valorização dos salários contribuiu para que a roda da economia girasse, pois, ao beneficiar os mais pobres, que direcionam maior parte do seu recurso mensal para produtos básicos para a sobrevivência, as economias de centros menos pujantes foram as mais beneficiadas.

"Para o Nordeste, é fundamental uma política de salário mínimo e que beneficia aquelas regiões com menor dinamismo econômico. Vários municípios são mantidos com o pagamento de servidores públicos e aposentados."

"O que seria da saúde, educação, níveis de miséria, população carcerária. Os aumentos acima da inflação não quebraram ninguém. Pelo contrário. Se mantivermos essa política de recomposição pela inflação, não teremos como proporcionar uma recuperação econômica. É um erro brutal. Ainda mais num período de pandemia", avalia.

Já para a professora da Universidade Federal do Ceará e coordenadora do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) em Sobral, Alessandra Araújo, alguns pontos precisam ser considerados para entender o impacto na renda e sobrevivência. O principal é que a recomposição do salário por uma média nacional, num país tão grande e desigual, como o Brasil, provoca descompassos regionais. "Esse cenário é pior principalmente para os moradores dos grandes centros urbanos. A tendência é piorar por conta das perdas de safra causadas pelas condições climáticas, aumento da demanda externa que paga mais."