Suprassumo do esporte, a Olimpíada é o ápice da narrativa de superação. Entrar na nata de uma atividade no mundo é sinal de dedicação, talento, abnegação. Mas a mística dos Jogos vai além dos três lugares no pódio. É, acima de tudo, um emaranho de história de campeões, seja entre os donos de medalha ou os supostos coadjuvantes.
Para celebrar o fim de Tóquio-2020, O POVO reúne alguns do momentos mais marcantes do espírito olímpico nesses Jogos.
Em 2016, o italiano Gianmarco Tamberi teve uma fratura no tornozelo, séria contusão que ameaçou a carreira dele no salto em altura. Em 2018, enquanto ele lutava para voltar ao antigo nível competitivo, o catari Mutaz Essa Barshim fez de tudo para que o amigo e rival retomasse a confiança, ajudando-o a voltar a ser um campeão. Em Tóquio-2020, os dois atingiram 2m37 no mesmo número de tentativas. Foi dada a oportunidade de um salto desempate ou um ouro dividido, algo inédito no atletismo desde 1912. Um abraço selou o feito histórico em conjunto.
A entrada do skate rendeu grandes audiência, novos públicos e competidores extremamente jovens entre os medalhistas. A brasileira Rayssa Leal, a Fadinha, foi prata aos 13 na modalidade street. Dias depois, no park, a britânica Sky Brown, 13, e a japonesa Kokona Hiraki, 12, superaram a maranhense na juventude e ficaram com bronze e prata, respectivamente. A nipônica, inclusive, se tornou a mais jovem da história. Entre os homens, o australiano Keegan Palmer, 18, foi bastante superior aos competidores para ficar com o ouro, enquanto o conterrâneo Kieran Wooley, 17, ficou em quinto.
Pode ter passado despercebido, mas a Olimpíada de Tóquio teve uma das maiores provas da história do atletismo: a final dos 400m com barreiras. Medalha de bronze, o brasileiro Alison dos Santos, o Piu, terminou em 46s72 e ficou a 2 centésimos do antigo recorde mundial, 46s70. Essa marca foi batida em mais de meio segundo por Rai Benjamin, com 46s17 e ainda assim o norte-americano não venceu. Isso porque o fenômeno norueguês Karsten Warholm bateu o próprio recorde e terminou em 45s94. Alison dos Santos até brincou que não acreditou no resultou ao ver que a marca de 46 fora batida. Os cinco primeiros colocados da prova seriam ouro na Rio-2016.
Se Caeleb Dressel fosse um país, ele seria o 17º no quadro de medalhas de Tóquio-2020. O norte-americano ficou com cinco ouros, mais que qualquer outra atletas numa Olimpíada marcada por performances decepcionantes de grandes favoritos. O nadador velocista, que já tinha dois títulos na Rio-2016, venceu os 50m livres, 100m livres, 100m borboleta, 4x100m livres e 4x100m medley (quatro estilos), com direito a dois recordes mundiais e dois outros recordes olímpicos. E ele tem apenas 24 anos.
Os Jogos de Tóquio viram a estreia de três esportes radicais: skate, surfe e escalada. E o Japão medalhou em todos. No primeiro, os donos da casa foram dominantes, com três dos quatro ouros disputados e um total de cinco medalhas — duas a mais que o vice-líder Brasil. No surfe, Kanoa Igarashi venceu o favorito Gabriel Medina e levou a prata após perder para o também brasileiro Ítalo Ferreira, enquanto Amuro Tsuzuki ficou com o bronze no feminino. Na escalada feminina, a prata e bronze ficou com Niho Nonaka e Akiyo Noguchi. Os nipônicos só passaram em branco no skate park e na escalada masculinos.
A neerlandesa Sifan Hassan era favoritíssima ao ouro nos 1.500. Mas ainda nas eliminatórias da prova, ela tropeçou na queniana Edina Jebitok no primeiro terço da corrida e caiu. Ela se levantou, recomeçou o trajeto, acelerou, venceu a eliminatória, avançou à final, na qual ficou com o bronze. Como ela foi ouro nos 5.000 e 10.000 metros, a atleta de origem etíope se tornou a primeira pessoa a subir no pódio da três provas de fundo do atletismo.
Na Rio-2016, quem confirmou o status de invencível foi o francês Teddy Riner, do judô, com o segundo ouro consecutivo. Em 2021, ele perdeu, ficou com o bronze, mas foi fundamental para o ouro da França por equipes, vencendo o Japão, favoritíssimo. Quem estabeleceu uma hegemonia ainda maior foi o cubano Mijaín López, na luta greco-romana, categoria até 130kg. Por mais inacreditável que soe, ele se sagrou tetracampeão olímpico consecutivo, com ouros em Pequim-2008, Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020. Um feito inédito na história da luta olímpica.
País-sede da próxima Olimpíada, a França teve um desempenho abaixo do esperado no quadro de medalhas, com "apenas" 33 pódios — 9 a menos que em 2016. Mas isso se deve ao fato de que esportes coletivos só são contados uma vez. O time surpreendeu com um ouro inédito no vôlei masculino; levou dois títulos no handebol, masculino e feminino; só perdeu dos EUA no basquete masculino, ficou com um bronze no feminino. Feito relevante para o
Dona de incríveis quatro ouros na Rio-2016, a ginasta era o maior nome de uma Olimpíada sem Usain Bolt e Michael Phelps, encarando uma pressão enorme. Nos treinos para Tóquio-2020, a norte-americana testou e evoluiu inúmeras acrobacias novas e desenvolveu um quadro conhecido como "twisties", que afeta o equilíbrio — físico e psicológico — de ginastas. Depois da desistência da prova de equipes, em que contribuiu para a prata para os EUA, ela desistiu de defender o título individual geral e de dois aparelhos. Voltou para a decisão da trave e ficou com um honroso bronze.
Simone Biles foi um das várias favoritas a não conseguirem desempenhar tudo que podiam. O brasileiro Gabriel Medina ficou sem medalha no surfe; a nadadora Katie Ledecky ficou levou "apenas" dois dos quatro ouros esperados; o sérvio Novak Djokovic e a japonesa Naomi Osaka ficaram sem pódio no tênis; o Brasil ficou sem medalhas no vôlei de praia e no vôlei de quadra masculino e virtualmente nenhum líder do ranking no skate ficou com um ouro.