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Manifestação de 7 de setembro em Fortaleza prevê carreata e motociata
Reportagem

Manifestação de 7 de setembro em Fortaleza prevê carreata e motociata

| Ceará | Aliados de Jair Bolsonaro projetam mobilização do feriado como uma demonstração massiva de apoio ao chefe do Executivo. Presidente, que vem perdendo popularidade, aposta fichas na mobilização
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BOLSONARO tem promovido motociatas para congregar apoiadores (Foto: Alan Santos/Presidência da República)
Foto: Alan Santos/Presidência da República BOLSONARO tem promovido motociatas para congregar apoiadores

Agendada para o feriado da Independência, manifestação em Fortaleza prevê carreata, motociata e bicicleata com ponto de partida do entorno do estádio Castelão, segundo um dos organizadores do ato em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Bolsonarista de primeira hora, Alex Melo, que se apresenta como empresário, defende a mobilização como "um dia da nova independência do Brasil", replicando falas do presidente.

O chefe do Executivo tem apostado no 7 de setembro como um dia de virada, a partir do qual pretende fazer demonstração de força nas ruas, assim como tentou e fracassou com o desfile de blindados por Brasília no começo do mês de agosto.

Bolsonaro e seus interlocutores recorrem às convocações num momento de fragilidade do presidente, que tem feito investidas contra ministros do Supremo, a exemplo do pedido de impeachment apresentado contra Alexandre de Moraes e rejeitado por Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ontem.

Dependente cada vez mais do centrão, que amplia seus espaços no governo, Bolsonaro tenta engajar setores mais fiéis a seu projeto exatamente num dia de grande valor simbólico para esses grupos, numa ação cujo objetivo é apontar para o Judiciário e o Legislativo como principais inimigos do presidente e responsáveis por sua inação.

"Todo esse sistema do mal que vem aí depredando nosso país, durante os últimos 30 anos, já está sentindo a força que esse movimento e essa campanha está tomando", defende Melo em um vídeo de chamamento para o 7/9.

Segundo ele, "os governadores, que estão contra o Brasil", agora querem "diálogo com o presidente" e "já estão baixando a guarda, mas não vamos parar".

De acordo com ele, o presidente não deve se reunir com os gestores estaduais, que, em encontro nesta semana, demandaram reunião com Bolsonaro para pacificar as relações.

Deputada estadual pelo PL e aliada do capitão da reserva, Silvana Oliveira afirma que "o povo está se mobilizando por conta própria" e que "existe uma insatisfação com a opressão e desvio da democracia por parte do Supremo".

"Ter um jornalista preso, um deputado e agora um presidente de partido por crime de opinião?", questiona a parlamentar, concluindo: "Opinião é livre, sempre foi. Se a imprensa é silenciada, se os representantes políticos não podem falar, o negócio está grave".

Silvana se refere à prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson, do PTB, dentro do inquérito relatado no STF por Alexandre de Moraes - o petebista ameaçou sistematicamente as instituições e a integridade física de magistrados.

Outro bolsonarista alvo de ações da Justiça recentemente foi o músico Sergio Reis, cujos endereços foram objeto de mandado de busca e apreensão autorizado por Moraes a partir de pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Professor de Direito da Universidade Regional do Vale do Acaraú (Urca), Fernando Castelo Branco pondera, no entanto, que "ninguém em sã consciência pode afirmar categoricamente que as manifestações do dia 7/9 são apenas de apoio ao presidente, o que seria parte das regras do jogo", como sustentam simpatizantes.

"Ninguém tem condição de afirmar que essas manifestações não vão descambar para um ataque às instituições, e, quando falo de ataque", segue o docente, "falo de tentativa de invasão do Congresso, do Supremo ou de tentativa de agressão".

Castelo Branco lembra que, tradicionalmente, a data também é marcada por protestos do Grito dos Excluídos, uma programação levada a cabo por setores oprimidos da coletividade.

"Até risco de haver confronto nas ruas existe. Nesse cenário, não temos segurança de como vai se comportar a PM", ressalta o professor. Ele sugere que governadores procedam ao monitoramento das forças locais, antecipando-se a eventuais problemas.

Cientista político e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Leonardo Sá concorda com a ação proposta por Castelo Branco.

"Penso que os governadores não estão agindo com o rigor institucional necessário, pois a política de segurança pública que adotam está refém do bolsonarismo, mesmo quando o governador é adversário do bolsonarismo", critica.

Para ele, "a insubordinação das polícias já vem sendo real" e "Bolsonaro pode, sim, usar as PMs para avançar" contra as instituições.

"Não acho que seja mera bravata (ameaças contra a ordem). Estou bem preocupado. Ele está frágil politicamente. Então, vai agir com cada vez mais extremismo", alerta.

 

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