Cientista político da FGV e um dos autores do livro "Governo Bolsonaro: retrocesso democrático e degradação política", Cláudio Couto acredita que "as PMs são o principal risco democrático hoje no país".
"Menos porque possam ser o instrumento de um golpe de Estado bem-sucedido, o que acho pouco provável", explica Couto, "mas porque podem produzir uma onda de violência política".
O pesquisador observa que, para causar turbulências sociais, não é necessário que haja amplo engajamento ao bolsonarismo dentro das corporações militares. Basta que um contingente resolva aderir aos apelos do presidente da República.
"Insubordinação de um coronel, como ocorreu em São Paulo, convocando seus 'amigos' para a mobilização, é algo grave, ainda mais quando esse coronel tem sob sua jurisdição 7 regimentos e 5 mil homens", aponta.
"Se só 500, ou mesmo 50 desses homens resolverem usar da violência contra opositores do governo", conclui, "o estrago pode ser muito grande".
Professor de Ciência Política da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Vitor Sandes relativiza esse risco, contudo. "Acredito que pode haver posicionamento de PMs no feriado, mas que não será a tônica do dia", projeta.
Segundo ele, "não existe clima político favorável" a um gesto a favor de Bolsonaro, "considerando que militares não podem fazer esse tipo de manifestação", conduta vedada pela Constituição.
Ainda conforme o especialista, a isso se soma o fato de que o presidente está em baixa, com popularidade decrescente e, portanto, "sem condições de se mover contra as instituições, tanto que buscado alinhamento com os líderes do centrão para garantir governabilidade". (Henrique Araújo)