É possível entender a mobilização do 7 de setembro por vários aspectos. Os símbolos clássicos da pátria, na contramão do revisionismo histórico que destronou muitos supostos heróis, sempre embalou grupos bolsonaristas.

É um pilar importante em outros países também, nos movimentos populistas de direita. Além da referência à camisa da seleção brasileira, há um investimento em uma data histórica como símbolo para a organização e a ocupação da rua.

Diferentemente dos movimentos progressistas e de esquerda, que elegem na maioria das vezes dias úteis, os grupos bolsonaristas optam por movimentação nos finais de semana e feriados, o que contribui ainda mais para o foco neste dia.

O outro ponto para incentivar a demonstração de rua pode ter a ver com a fraqueza institucional e as derrotas sucessivas em várias instâncias. É outro tipo de demonstração de força, poder, união e patriotismo alternativos.

Não é apenas a presença numérica de bolsonaristas e apoiadores no dia 7 de setembro que pode definir a direção da resposta dos atores políticos e institucionais. Também será relevante o teor das manifestações: textos dos cartazes, falas, relação com a pandemia, ou seja, se estarão de máscaras, apoio de grupos organizados, como sindicatos ou figuras de destaque político etc.

Bolsonaro é constantemente desincentivado nos seus ataques à democracia e ao STF, e todo o ataque é institucionalmente, pelo menos em parte, revertido. Nenhum outro ator político significativo está interessado nesses ataques, e o apoio a Bolsonaro é circunstancial, podendo ser revisto, portanto.

A força das ruas pode levar alguns parlamentares e lideranças políticas a repensar seus cálculos eleitorais e o tom das críticas ao presidente, mas não levará a uma conversão antidemocrática. Nem visualizo, se for um fracasso, a uma resposta mais dura.

Acredito que a movimentação do feriado é muito mais uma necessidade dele - Bolsonaro, um estímulo emocional para perseguir seu projeto, lembrando que ele não se distanciou em nenhum momento na cadeira presidencial, mantendo seus posicionais disruptivos - ao contrário do que muitos eleitores e apoiadores moderados imaginaram ao votar nele. Mas mesmo com essa perseverança, sua situação nunca foi tão desfavorável como hoje, as notícias e os dados negativos se avolumam.