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Nos ataques à democracia, imprensa e STF são alvos preferidos
Reportagem

Nos ataques à democracia, imprensa e STF são alvos preferidos

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Tipo Notícia

O conturbado 7 de setembro de 2021 foi o 981º dia de Jair Bolsonaro como presidente da República. Foi o momento deste governo, pelo menos por enquanto, em que a corda da democracia brasileira mais foi esticada. E ela vem sendo espichada ao limite em relação ao estado democrático de direito, respeito à imprensa livre, à Constituição, harmonia entre os poderes, civilidade.

O titular do Planalto salivou impropérios. Xingou de "canalha" o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e pregou a desobediência às decisões do magistrado. Esbravejou contra o presidente do TSE, Luis Roberto Barroso, porque quer a volta do voto impresso.

Pilar da democracia, a imprensa é dos alvos preferidos do bolsonarismo. Na cobertura das manifestações dos apoiadores bolsonaristas, teriam sido pelo menos 17 profissionais de imprensa vítimas de agressões verbais e abordagens intimidatórias nas ruas somente no 7/9. Desses casos, 15 foram levantados pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) em relatos e notícias. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) contabilizou quatro casos, mas dois diferem da lista da Fenaj.

A animosidade com a imprensa só piora. "Em 2020, a situação agravou-se. Houve uma verdadeira explosão da violência contra jornalistas e contra a imprensa em geral. Foram registrados 428 episódios, 105,77% a mais do que em 2019", apontou o "Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa - 2020", o mais recente elaborado pela Fenaj. E 175 deles (40,89%) partiram de Bolsonaro.

Carlos Holanda, repórter de Política do O POVO, se viu cercado e hostilizado por apoiadores do presidente nas manifestações de 19 de abril de 2020. Os atos pediam intervenção militar no Brasil. Ele estava ao lado do repórter fotográfico Aurélio Alves. "Fomos agredidos verbalmente, de forma muito pesada. Nos cercaram, ofenderam. Uma situação de muito desconforto. Nos mantivemos calmos, mas em alerta. Temos convivido com isso sistematicamente. Reproduzem o que assistem do presidente, que não deveria encorajar, mas estimula esses gestos", avalia.

Em 2021, até o último dia 13, em outro recorte, a Abraji contabilizou 259 alertas de agressões, que englobam abuso de poder estatal, restrições à internet, processos e sentenças judiciais, discursos estigmatizantes, ataques e investidas contra o acesso à informação. Em igual período do ano passado, esses alertas chegaram a 203. Quando se compara 2019 e 2020, a variação é de 352%, ou seja, os alertas passaram de 81 para 366, contabilizando 448 alertas nos dois primeiros anos de governo.

A Abraji considera as agressões contra a liberdade de expressão com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, relacionados com a livre expressão e o acesso à informação, codificados como objetivos 16.10.1 e 16.10.2. O levantamento compõe o dossiê Voces Del Sur, com dados de outras dez organizações da sociedade civil da América Latina.

O monitoramento da ong Repórteres Sem Fronteiras também apresenta número elevados, foram 331 ataques somente no primeiro semestre deste ano, seja a jornalistas ou a veículos de imprensa. Em todos esses monitoramentos, o presidente é o autor da maior parte das agressões, de 20% a 28% dos casos. Quando não é ele, são seus filhos, aliados políticos ou seguidores bolsonaristas. O meio digital, via redes sociais, é com destaque a principal arena dessas agressões.

 

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