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Offshore constrange moralismo bolsonarista, diz pesquisador
Reportagem

Offshore constrange moralismo bolsonarista, diz pesquisador

| BOLSONARISMO | Para o cientista político Cleyton Monte, por mais que o ministro se explique, situação é moralmente delicada, tendo em vista os altos lucros em paraísos fiscais, enquanto o Real se desvaloriza
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Cleyton Monte, cientista político (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Cleyton Monte, cientista político

O bolsonarismo se fortalece fincado no moralismo e na ideia de combate à corrupção e a qualquer ato imoral, motivo pelo qual o suposto conflito de interesses protagonizado por Paulo Guedes, dividido entre cuidar da valorização da moeda brasileira e lucrar com a alta do dólar, é fator de constrangimento para os adeptos desse discurso. A avaliação é do cientista político Cleyton Monte, pesquisador associado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC).

"Então, quando tem ação como essa do chefe da Economia e do presidente do Banco Central, cria esse constrangimento. Por mais que o ministro tenha resposta, repercute negativamente em cima de uma figura que tem ligação com o mercado financeiro. Isso se torna uma situação bastante delicada", afirma Monte.

Deslocando a análise para outro aspecto que envolve o economista, o pesquisador afirma que o status de "superministro" ficou no passado, sendo inversamente proporcional ao avanço do Centrão sobre o governo.

Questionado sobre se o silêncio de Bolsonaro decorre do constrangimento ao qual se referiu, o professor universitário cita outras causas. A primeira hipótese é de que o presidente tenha dificuldades para entender do que se trata o problema e qual a sua dimensão.

Na sequência, Monte menciona que não é interessante para o presidente dar destaque ao caso num momento que antecede o relatório da CPI da Covid, de modo a evitar a soma de problemas de diferente origens.

"O presidente Bolsonaro tem usado o silêncio para tratar de questões constrangedoras que atingem o alto escalão de seu governo e a sua família", destaca o cientista político Mario Schettino Valente.

"Alguns exemplos desse comportamento são o caso do seu primeiro ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio", segue Schettino, "e recentemente os casos envolvendo seus filhos e mansões em Brasília."

O professor universitário se refere à compra de uma mansão pelo senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) no valor de quase R$ 6 milhões, e ao aluguel de outra residência, de R$ 3,2 milhões, por Jair Renan e a mãe.

Já Gabriella Lima Bezerra nota que Bolsonaro não tem dificuldade em abandonar aliados. "Pode ser que nos próximos dias, a depender, ele faça algum movimento de proteção. Mas acaso para ele comece a impactar sua própria imagem, ele não tem a menor dificuldade de abandonar o Guedes ou quem quer que seja, como aconteceu com o Moro, por exemplo", analisa Gabriella, pesquisadora também associada ao Lepem-UFC.

A pauta anticorrupção foi uma das principais catalizadoras da candidatura de Jair Bolsonaro em 2018. A operação Lava Jato havia prendido vários políticos, desgastando o sistema partidário e principalmente o Partido dos Trabalhadores (PT), pelo fato de ter ocupado o poder por 13 anos e ter ido à disputa eleitoral enquanto seu principal líder estava preso. (CH) LEIA MAIS NA PÁGINA 11

 

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