A investigação Pandora Papers jogou luz sobre os investimentos que Paulo Guedes possui no Exterior, protegidos das instabilidades políticas e econômicas do País, o levando ao centro de um caldeirão político. O momento adverso é agravado pela falta de apoio parlamentar e pelo isolamento que o "superministro" amarga dentro do governo Bolsonaro. O presidente ainda não teceu qualquer fala sobre assunto até a publicação desta reportagem, num total de dez dias de silêncio.
A gestão que conseguiu eleger Arthur Lira à Presidência da Câmara dos Deputados via liberação de emendas parlamentares, por exemplo, não caiu em campo com mesma intensidade para livrar o economista de ser convocado a se explicar sobre a offshore mantida no Exterior. Foram 310 votos favoráveis e 142 contrários à convocação dele. Dos principais líderes do Centrão, por exemplo, o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) não articulou com os deputados uma saída.
Ao quadro de desgastes políticos somam-se os preços inflacionados nos supermercados e nos postos de gasolina, sintomas de que a economia nacional engatinha. As nuances da política, no entanto, ainda fazem com que a manutenção do ministro no cargo seja o que há de mais provável no horizonte do governo.
Por diferentes razões, cientistas políticos ouvidos por O POVO convergiram na análise de que a saída de Guedes não deve acontecer. Não pelo caso da offshore. Rodrigo Stumpf González, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), avalia que o momento econômico por si só já é grave e "trocar o ministro agora seria uma sinalização de descontrole que pode prejudicar a posição no mercado internacional, pressionar o câmbio e a inflação."
Do ponto de vista jurídico, para Stumpf, a offshore do ministro é um problema secundário. "A questão seria o julgamento moral", ele analisa. O cientista político diferencia a convocação pelos deputados daquilo que seria um pedido deles pela cabeça de Guedes.
"Os deputados querem enviar uma mensagem ao governo. Mas para obter vantagens. Guedes é visto como uma barreira para o aumento do gasto público e liberação de emendas. Querem mostrar que o futuro dele depende dos deputados", afirma o docente.
Rodrigo Prando, cientista político do Instituto Mackenzie (SP), não acredita que os investimentos de Guedes no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, devam ensejar a saída do ministro da gestão Bolsonaro. No lugar disso, ele concorda com Stumpf na avaliação de que é provável que suba a pressão dos deputados do Centrão com a proximidade do ano eleitoral, a fim de aumentar os gastos e facilitar reeleições.
"O grande problema é que não se tem receita para isso. Então, de fato, as pressões no Paulo Guedes são muito maiores por conta disso do que por offshores", diz o sociólogo.
Gabriella Lima Bezerra, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), projeta que a ida de Guedes à Câmara será um momento no qual os parlamentares irão mais ressaltar o trabalho do Congresso Nacional, investir em boas perguntas, do que propriamente partir para o ataque contra o ministro, esta uma tarefa que deverá ficar restrita à oposição.
Mario Schettino Valente, cientista político e professor de Relações Internacionais do Ibmec, levanta a possibilidade de que a presença de Guedes no plenário da Câmara dos Deputados tenha potencial de "render vídeos do ministro enfrentando os parlamentares", no que ele entende como a tônica do governo: "mobilização permanente das bases de apoio".