Parte da Messejana de antigamente ficou na lembrança dos moradores. Memórias daquela Messejana pacata, dos sítios, que lembrava uma cidade do Interior e que atraiu a jovem Fátima Barreto de Araújo, recém-chegada de Acopiara, em 1968, com os pais e o irmão. De um passado rico, a história foi sendo substituída por prédios mais novos, as casas deram lugar a lojas, e o entorno da Igreja Matriz tornou-se um centro comercial.
"A gente podia sair, podia ir à missa tranquilamente. Hoje em dia não pode mais, porque à noite é tudo fechado, você não tem como se movimentar num lugar desse, só se for de carro", conta a professora aposentada, que hoje tem 75 anos. Apesar de reconhecer alguns problemas, continua apaixonada pela "terra prometida" onde mora desde os 22 anos e na qual seguiu carreira na educação pública.
Hoje localizada na Secretaria Executiva Regional (SER) VI junto a 14 bairros, Messejana já teve autonomia e foi extinta duas vezes ao longo de sua história. Em 1º de janeiro de 1760, foi fundada a Vila Nova Real de Messejana da América, que seria extinta quase 80 anos depois, em 22 de dezembro de 1839. O território foi dividido entre Fortaleza e a Vila de Aquiraz.
A segunda vez que Messejana viu-se autônoma foi no ano de 1881, quando, em 20 de fevereiro, a Vila foi reinaugurada. Mas não durou muito. Passaram-se pouco mais de 40 anos até que, em 31 de outubro de 1921, a Vila de Messejana, assim como a de Parangaba, foi anexada ao território de Fortaleza pelo então presidente do Ceará, cargo equivalente ao de governador, Justiniano de Serpa.
Em uma manhã nublada de quinta-feira deste mês de outubro, crianças brincavam no Sítio Alagadiço Novo, um dos existentes naquela época em que a vila de Messejana foi fundada. De máscara de proteção contra a Covid-19 e uniforme da escola onde estudam, elas corriam pelo jardim e se escondiam umas das outras entre as paredes da pequena e simples casa onde, em1829, nasceu o escritor José de Alencar.
Hoje equipamento cultural da Universidade Federal do Ceará (UFC), o sítio é um dos locais marcantes da história de Messejana - e também da vida de Fátima Barreto de Araújo. Era para lá que a pedagoga ia e vinha todas as noites, a pé, durante mais de duas décadas. "Trabalhei durante 26 anos na Escola de Iracema, no terreno da Casa de José de Alencar. Comecei minha vida profissional e me aposentei lá. Foi um tempo de realização", conta.
É criação do escritor a lenda da formação do Ceará, no romance que leva o nome da personagem que adorna a Lagoa de Messejana. Em 2004 foi instalada uma estátua de 12 metros de altura e 16 toneladas em homenagem a Iracema, mas o que se vê hoje, ao chegar ao entorno da lagoa, são rastros de anos de descaso.
De tão desgastado, quase não é possível identificar o que diz o painel que um dia a apresentou aos visitantes. O calçadão está esburacado, as grades estão enferrujadas, e algumas pessoas adotam o local abaixo da estrutura do calçadão como refúgio. "Falta muito o poder público, o poder político, interferir e investir no nosso bairro. É um bairro lindíssimo, histórico, mas infelizmente é muito esquecido", lamenta a pedagoga.