Logo O POVO+
Estratégia é aceitar qualquer dinheiro
Reportagem

Estratégia é aceitar qualquer dinheiro

Papel, plástico ou metal
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Francisco adotou PIX e cartões de crédito e débito para não perder um só cliente (Foto: FERNANDA BARROS/Especial para o povo)
Foto: FERNANDA BARROS/Especial para o povo Francisco adotou PIX e cartões de crédito e débito para não perder um só cliente

Os 35 anos de trabalho vendendo bombons e pipocas em frente ao Cine Teatro São Luiz fizeram com que Francisco Monteiro, 65 anos, fosse sempre rápido nas adaptações. As perdas de clientes por não ter nem máquina de cartão nem PIX fizeram ele agir rápido. Hoje, as bandeiras do "dinheiro de plástico" e o código PIX estão em todas as laterais do carrinho.

A atividade é desempenhada por ele há 53 anos e ajudou a criar os três filhos - um deles já falecido, tem o santinho de 7º dia colado bem ao lado de um dos cartazes das formas de pagamento, enquanto outro já possui o próprio carrinho de pipoca e fica estrategicamente do lado oposto do pai na Praça do Ferreira.

Perguntado sobre o volume de vendas no dinheiro em espécie, ele afirma que são as de menor quantidade atualmente. Na gaveta do carrinho ainda tem os espaços de notas com alguns trocados e uma boa quantidade de moedas para troco. Pura segurança de quem se preocupa mais com o celular, hoje em dia.

"A gente não tem medo de ser roubado como antes, mas se pegar o celular...", adianta sobre qual bem tem mais zelo em manter longe de qualquer risco. Afinal é no aparelho que consegue conferir a chegada do PIX dos clientes e emite a internet para a maquineta de cartão.

O comportamento do vendedor ambulante contrasta com uma das mais antigas lojas do Centro da Capital. Na Leão do Sul, fundada em 1926 como destaca a fachada da pastelaria, os cartões de crédito e débito só começaram a ser aceitos no ano passado, quando a pandemia ameaçou severamente as finanças da loja após o lockdown necessário adotado para conter a contaminação por Covid-19.

As taxas de administração cobradas pelos bancos eram os principais empecilhos à adoção das formas eletrônicas de pagamento, segundo conta o gerente Leonardo Barbosa. Sobre o PIX, ele fala que "o sistema da loja não consegue identificar a chegada do dinheiro" com a agilidade necessária para o caixa liberar a compra e, por isso, ainda não foi adotado.

"Hoje, 70% das compras é no cartão. O resto é em dinheiro. Notas de R$ 2 e R$ 5 e moedas estão difíceis de mais de encontrar. Acho que o pessoal tem tudo guardado em cofrinhos em casa", reclama, justificando a fixação de um cartaz próximo ao caixa que pede o uso de moedas no pagamento dos pasteis, caldos e refrigerantes.

Os dois casos reforçam a teoria de uma fase transitória nas formas de pagamento e para o sistema bancário do vice-presidente do Ibef-CE. Eliardo Vieira ressalta ainda a transição por qual as empresas passam quando o comando é assumido por pessoas mais jovens e cuja tecnologia não é algo desconhecido ou encarado como uma ameaça às práticas da empresa.

"Eu que transito um pouco entre gerações, trabalhando com consultoria financeira, percebo que a geração que nasceu de 1990 para cá, tem uma visão de mundo e de tangibilidade e não está nem aí para dinheiro, quer é cartão de bancos. Quando essa geração começar a ter acesso, mais poder, ascender na sociedade, a gente vai notar a mudança de forma mais significativa", analisa, sugerindo avanços nos métodos de trabalho mais alinhados à tecnologia atual.

Ao mesmo tempo dessa troca geracional, a necessidade dita o ritmo das adaptações e garante dinheiro vivo na rua. Seja como Francisco e o carrinho de pipoca que aceita de moedas ao PIX, seja como a pastelaria que ainda se dá o luxo de limitar as formas de pagamento.

 

O que você achou desse conteúdo?