A falta de um celular limita as vendas de Cleilton Silva, 36 anos, diariamente nas ruas do Centro de Fortaleza. O carrinho de milho é de onde tira o sustento da família, composta por ele, a esposa e mais 7 filhos - um deles, Cleiton, acompanhava o pai quando O POVO o encontrou próximo à Praça do Ferreira. Sem smartphone e muito menos conta bancária, ele depende essencialmente de dinheiro em espécie para sobreviver.
Nos bolsos, conta as notas e o dinheiro trocado necessário para vender as espigas cozidas e assadas no carro adaptado que empurra entre as ruas do Centro, de casa - a uns 15 quarteirões dali no sentido do Monte Castelo - até os arredores da Torre do Relógio.
Os clientes dele, geralmente funcionários de lojas próximas do banco aonde o carrinho estava encostado, aparentemente já conhecem a realidade de Cleilton, e chegam, sem muita conversa, com os R$ 2,50 trocados. "Não tenho conta em banco e nem celular, então, tem que ser assim", diz, meio sem jeito de contar das dificuldades diárias que enfrenta para sobreviver.
Parte de uma parcela da população que nenhum benefício social conseguiu inserir entre os detentores de contas de banco, o vendedor de milho engrossa fileiras da população brasileira que só encontra emprego na informalidade e cuja renda é baixíssima para despertar o interesse de bancos e fintechs.
"No Brasil, infelizmente, essa miséria vai ser acentuada pela inflação que cresce mês a mês e, com isso, acredito que o processo de bancarização desse pessoal vai demorar um pouco mais", aponta Eliardo Vieira.
O vice-presidente do Ibef-CE traz uma dura realidade ao falar de camadas que dependem essencialmente de dinheiro em espécie no Estado e no País, relembrando que "a parcela da população mais rica só ganhou durante a pandemia enquanto os mais pobres foram os que mais perderam dinheiro".
"Não necessariamente a gente vai ter um retrocesso bancário, mas a ausência de acesso por um determinado nicho da população vai acontecer devido ao aumento da pobreza acelerado pela pandemia", arremata.