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PF mira em Ciro e Cid; irmãos dizem que operação é "politiqueira"
Reportagem

PF mira em Ciro e Cid; irmãos dizem que operação é "politiqueira"

| CEARÁ | Operação da PF cumpriu mandados nos endereços de Cid e Ciro e levantou sigilo bancário, fiscal e telefônico dos irmãos, suspeitos de se beneficiarem de propina nas obras da reforma do Castelão - os pedetistas negam
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 OPERAÇÃO COLOSSEUM cumpriu 14 mandados de busca e apreensão (Foto: Divulgação/ Polícia Federal)
Foto: Divulgação/ Polícia Federal  OPERAÇÃO COLOSSEUM cumpriu 14 mandados de busca e apreensão

Alvos de operação da Polícia Federal que investiga suspeita de pagamento de propinas em obras do estádio Castelão entre 2010 e 2013, os irmãos Cid e Ciro Gomes, ambos do PDT, classificaram a ação como "politiqueira" e com o "DNA" do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Batizada de "Colosseum", a investigação, autorizada pelo juiz Danilo Dias Vasconcelos de Almeida, cumpriu 14 mandados de busca e apreensão ontem, em quatro estados, entre eles o Ceará. Aparelhos eletrônicos e quantias em dinheiro foram apreendidos pelos agentes da PF em residências de Ciro, Cid e Lúcio Ferreira Gomes - o terceiro irmão - em Fortaleza e no Interior.

De acordo com a polícia, os indícios que embasaram a execução das medidas são a possibilidade de "fraudes, exigências e pagamentos de propinas a agentes políticos e servidores públicos decorrentes de procedimento de licitação para obras". A operação, conforme a PF, baseia-se em delação premiada de quatro executivos de construtora tomada em 2017.

Hoje senador, Cid foi governador do Estado até 2014, último ano de sua gestão. O parlamentar negou que tenha havido sobrepreço na licitação do Castelão ou recebimento de propina para favorecer a empresa responsável pelas obras no estádio, a Galvão Engenharia.

Em coletiva de imprensa nessa quarta-feira, horas depois de Ciro ter declarado que "Bolsonaro transformou o Brasil num Estado policial", Cid rebateu as acusações, responsabilizou o presidente e o deputado federal Capitão Wagner (Pros) por perseguição política e resumiu o episódio como uma "molecagem".

"Eu sintetizaria numa palavra que considero isso: uma molecagem o que fizeram hoje. Uma molecagem que tem toda uma narrativa. A PF é uma instituição ultra respeitada, reconhecida, mas, lamentavelmente, e isso tem que ser denunciado, ela está sendo por sua direção completamente aparelhada", criticou o senador.

Cercado de aliados na Assembleia Legislativa (AL-CE), entre eles deputados estaduais do PDT, o ex-secretário de Esportes Ferruccio Feitosa e o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, Cid afirmou ainda que a apuração da PF tem "claros objetivos politiqueiros de desgastar a imagem do Ciro, de desgastar a nossa imagem, para que isso possa servir ao interesse nacional do moleque Bolsonaro e ao interesse local do seu assecla no estado do Ceará".

Em seguida, falou que "todos sabem qual é o capitão ao qual eu me refiro. É o capitão lá e o capitão aqui, estão unha e cutícula, todos a serviço de uma causa", numa referência a Wagner, que é pré-candidato ao Governo do Estado em 2022.

Questionado se avaliava que a PF, por influência de Bolsonaro, tinha o propósito de interferir no processo eleitoral no Ceará, Cid respondeu: "Não tenho dúvida disso, espero que tenha ficado bem claro. Eu vou além: classifico como molecagem que parte do presidente, que, aparelhando a PF, tem dirigido para os seus interesses políticos nacionais e para os seus asseclas aqui no estado do Ceará".

O senador citou como exemplo dessa interferência suposto vazamento da operação no dia anterior. "Ontem (terça-feira), se a gente for procurar, um vereador de Fortaleza ligado ao Bolsonaro, ligado ao Capitão, que é ligado aqui ao Bolsonaro, disse que hoje ia ter uma bomba. Portanto sabiam previamente de uma operação", argumentou, sem citar nomes.

Em nota enviada ao O POVO, o vereador de Fortaleza Carmelo Neto (Republicanos), aliado do presidente, exigiu "que o senador Cid Gomes nomine o vereador que ele quis acusar", acrescentando: "Se ele acha que pode jogar uma denúncia tão grave ao léu, tudo para descredibilizar uma operação, está enganado".

Para ele, "é visível o desespero de Cid em criar narrativas mentirosas para atacar instituições respeitadas como a Polícia Federal e tirar o foco das graves acusações de corrupção que pairam sobre a família Ferreira Gomes no Ceará".

Também por nota, o deputado Capitão Wagner comentou as críticas do senador. "Cid Gomes terá de comprovar na Justiça que eu tinha conhecimento da operação deflagrada, como afirmou irresponsavelmente", assinalou.

"Para se defender", continuou Wagner, "ele ataca, tentando livrar-se de uma acusação grave, debochando da inteligência dos cearenses, pensando que continuará nos enganando. Isso não pode continuar". (leia mais em CARLOS MAZZA, página 9; ÉRICO FIRMO, página 10)

 

Operação da PF: entenda o caso

A PF mobilizou efetivo de 80 policiais federais para cumprir 14 mandados de busca e apreensão em endereços de Fortaleza, Meruoca, Juazeiro do Norte (CE), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e São Luís (MA). Lúcio, Cid e Ciro Ferreira Gomes são alvos das diligências.

As ordens foram expedidas pelo juiz Danilo Dias Vasconcelos de Almeida, da 32ª Vara Federal Criminal no Ceará. O magistrado ainda determinou a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático de Ciro, Cid e Lúcio Gomes, além de outros investigados.

A ofensiva mira supostos crimes de lavagem de dinheiro, fraudes em licitações, associação criminosa, corrupção ativa e passiva. O nome da operação faz referência ao Coliseu, localizado em Roma, na Itália.

De acordo com a PF, as investigações tiveram início em 2017 e miram "possível pagamento de vantagem indevida para que a Galvão Engenharia obtivesse êxito no processo licitatório da Arena Castelão e, na fase de execução contratual, recebesse valores devidos pelo Governo do Estado ao longo da execução da obra de reforma, ampliação, adequação, operação e manutenção do estádio".

"Apurou-se indícios de pagamentos de R$ 11 milhões em propinas diretamente em dinheiro ou disfarçadas de doações eleitorais, com emissões de notas fiscais fraudulentas por empresas fantasmas", registrou a PF em nota.

As investigações se baseiam em delação premiada de executivos da construtora, ainda em 2017, quando os depoimentos foram tomados.

 

Sigilos

Além dos 14 mandados de busca e apreensão cumpridos ontem, houve autorização judicial para levantar o sigilo fiscal, bancário e telefônico dos irmãos Ciro e Cid Gomes

 

Castelão

Ao custo total de R$ 518,6 milhões, o Castelão foi construído em parte com recursos oriundos do BNDES - R$ 351,5 milhões - e em parte com verba do Governo do Estado - o restante do valor

Investigação

A apuração da PF, em inquérito aberto ainda em 2017, investiga se houve pagamento de propina durante as obras de reforma da arena, levadas adiante pela Galvão Engenharia

 

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