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Carta a quem nega a vacina
Reportagem

Carta a quem nega a vacina

Crônica epistolar que poderia ser comparada a um gesto. Gesto de amizade. Nela, a escritora Ana Miranda convida os reticentes à vacina contra a Covid-19 a refletirem sobre sua própria imunização durante a infância e celebra a possibilidade do medicamento ser um aliado da vida
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A quem nega vacina (Foto: Jansen Lucas)
Foto: Jansen Lucas A quem nega vacina

Icapuí, dezembro de 2021

Como vai você? Espero que esteja bem, sobretudo com boa saúde, que tem sido o mais frágil ponto para todos nós, neste tempo de pandemia. Escrevo-lhe porque um amigo pediu-me que lhe falasse sobre a sua recusa a se vacinar contra a covid-19. Você, que escapou de ter poliomielite, tuberculose, coqueluche, rubéola e tantos outros males porque sua mãe lhe deu as vacinas na sua infância! Sua mãe e a ciência, de mãos dadas, livraram você de coisas terríveis como cólera, meningite, hepatite... Nenhum outro medicamento fez tanto pela saúde humana como a vacina.

Tomar as vacinas é tão importante para a sua saúde quanto alimentar-se de modo saudável e fazer exercícios físicos como caminhar, e mentais como ler um livro. Isso pode significar a diferença entre você estar vivo, fazendo o que gosta, ou estar doente numa cama, num hospital, sem poder andar, respirar, com doenças que poderiam ter sido evitadas, chamadas pelos cientistas e doutores de imunoprevisíveis.

Algumas pessoas pensam que é melhor ser imunizado pela própria doença do que pela vacina. Não é verdade! A vacina causa uma resposta imunológica parecida com a infecção natural, mas sem provocar a doença e nem pôr a pessoa em risco. Não foi uma conquista fácil. Em 1804 o marquês de Barbacena trouxe a vacina para o Brasil, mas apenas em 1956 as pessoas puderam ver a comprovação desse recurso, com a primeira erradicação de uma doença, a varíola, que chegava a matar quarenta por cento dos infectados. Foi um grande avanço da medicina.

Difícil compreender os que recusam a vacina contra a covid-19. É uma doença terrível, um pesadelo, posso contar os sofrimentos por que passei e tantas pessoas passaram, ainda passam; posso lhe relatar sobre familiares e amigos de todos nós, mortos em grande sofrimento e solidão, sobre idosos e indígenas sendo fulminados, sobre isolamento e angústia, medo e fome. Posso contar sobre as estranhas sequelas que a covid-19 nos lega: formigamentos nos pés ou na cabeça, dores nos pulmões ou em outros órgãos, suor incontrolável, perda do paladar e outras ainda desconhecidas. Causou colapso em sistemas de saúde, pânico, matou mais de cinco milhões de pessoas em todo o mundo, fechou economias. Hoje conhecemos meios de controle e temos várias vacinas.

Pessoas que suspeitam da velocidade com que as vacinas contra a covid-19 foram produzidas esquecem o quanto a biotecnologia está avançada. Havia gigantescos interesses envolvidos, altíssimos investimentos, urgência para se encerrar o surto. Sem vacina, não temos defesa nas pandemias. A vacina é uma das invenções maravilhosas da humanidade, uma das mais generosas. Nasceu da simples observação de que um segundo adoecimento era sempre mais leve.

Sei que "alguns têm medo, estão perdidos, medo da doença, medo da vacina que não conseguem entender. Outros são indiferentes, egoístas, arrogantes". Palavras da sábia Lucia Bettencourt. "Mas não é justo condenar os outros à doença, quando uma vacinação generalizada poderia erradicar o mal". Alguns não se importam com a morte de seres humanos e não arregaçam a manga para tentar salvar vidas.

A vacinação é injusta, como a humanidade. Graças ao SUS, nós, brasileiros, temos bem mais da metade da população protegida, assim como americanos e europeus. Na África apenas sete por cento foram vacinados. Eles estão ávidos pela vacina, e todos os países precisam ajudá-los. A pandemia só acabará quando o mundo inteiro for vacinado. Vacinada, se você tiver contato com o vírus seu corpo se lembrará de como fazer para neutralizá-lo e você não vai morrer. Se você se vacinar estará ajudando a erradicar a pandemia e salvará muitas vidas. Vacine-se.

Com um abraço afetuoso,

Ana Miranda

 

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