Metaverso, um espaço virtual compartilhado, e onde a realidade aumentada o torna mais próximo do mundo real, deixou de ser conceito há alguns anos.
Alvos de filmes, projetos de interação social e, principalmente, jogos eletrônicos, essas plataformas despertaram o interesse de gigantes da tecnologia, como Facebook – cuja holding foi rebatizada de Meta –, e demonstram que está promovendo também uma nova economia.
A partir de criptomoedas, tokens não fungíveis (NFT) e blockchain, o metaverso deve movimentar US$ 800 bilhões até 2025, segundo a Bloomberg Intelligence. E tem cearense de olho nessas oportunidades de negócio.
"Os modelos que a gente tem de comércio e serviços todos serão migrados para o metaverso, num novo ambiente social e econômico. Nós temos uma reconstrução de um sistema econômico que vai permitir a remodelagem de toda a economia com a possibilidade de digitaliza ativos"Jefferson Teixeira de Souza, especialista em blockchain e criptoativos e CEO da Arqué
A tecnologia blockchain, que permite certificar as transações, e a NFT, que certifica a originalidade de itens como obras de arte, jogos ou mesmo “terrenos e prédios virtuais”, são motivos de menor risco ao usuário nas transações do metaverso, segundo reforça Jefferson Teixeira de Souza, especialista em blockchain e criptoativos e CEO da Arqué.
Na prática, a plataforma virtual desenvolvida pela Nike para que o usuário teste e compre tênis sacramenta a segurança das transações destacada pelo especialista e a migração dessas empresas do “mundo real”. Outras experiências de realidade aumentada ou mesmo metaverso são conduzidas por Prada, Gucci e Vans.
Ele explica que o dinheiro do metaverso é a criptomeda e o sistema econômico é um ambiente de utilização dessas moedas, qualquer uma delas. “Usando a tecnologia de blockchain, pode-se fazer o processo de tokenização digital, que é o NFT, e qualquer tipo de ativo virtual pode passar por isso, tendo os mesmos ativos em termos de segurança”, complementa.
O exercício da imaginação é ideal para aqueles que não tiveram experiências com jogos eletrônicos ou sequer viram filmes sobre o assunto entendam a forma como esses novos negócios estão sendo construídos.
Tiago Guimarães, CEO da Bugaboo Studios e especialista em desenvolvimento de ativos em metaverso, aposta que dentro de quatro ou cinco anos deveremos ter algo mais parecido com os filmes, “de forma mais completa”, com o desenvolvimento de melhores equipamentos de realidade aumentada, inteligência artificial, menor latência da conexão e preços mais acessíveis dessa tecnologia.
Com essas ferramentas, Guimarães aposta numa “emulação” do mundo real nas plataformas de metaverso desenvolvidas pelas empresas.
“O metaverso vai muito além dos espaços 3D. É uma rede que compartilha informação, ativos. Agora, o que o Facebook tem vendido é o metaverso como infraestrutura”, aponta, sinalizando a possibilidade de incorporadoras, montadoras e demais empresas do mundo real migrarem e começarem a vender seus itens nesta nova economia.
Segurança e paraíso fiscal
Mas a mesma segurança que garante a transação entre os usuários das plataformas assegura a origem do dinheiro antes de ele entrar no metaverso? Alan Kardec, CSO da Blockchain One, afirma que sim.
Ele diz que "essa discussão de lavagem de dinheiro nas criptomoedas está superada" e "chega a menos de 1% hoje." Para Kardec, as autoridades monetárias devem estar atentas aos movimentos deste mercado para fazer alguma mediação.
"Estamos em um momento nesse processo que não adianta fazer com que esse modelo (de economia) se adeque ao que temos hoje de forma regular. Não cabe. É descentralizada. A economia é desmembrada dos modelos tradicionais e tende a evoluir e definir parâmetros"Alan Kardec, CSO da Blockchain One
Até a participação dos governos em ações que condenam ou valorizam as moedas digitais não surtem mais os efeitos de antes, como destaca João Antonio Cella Justo, Head de Operação e Inovação do Ninna Hub. Ele fala de emissões de documentos ou falas de autoridades que mexiam na cotação de criptomoedas como o Bitcoin há cinco anos e, hoje, passam despercebidas pelo mercado.
Futuro nas mãos dos jovens
O entendimento e a operação dessa nova economia, para Justo, deve caber às novas gerações. "Quem tem mais familiaridade nisso são os jovens, que estão imersos. Os adultos olham com oportunidade de negócio, mas o nascente digital são as crianças", diz, sugerindo que a geração de agora não terá total entendimento ou domínio da nova economia.
"O metaverso já é realidade e as criptomoedas relacionadas a esse mundo já movimentam bilhões diariamente. Isso mostra que, junto aos NFTs, esse mercado crescerá cada vez mais e quem não se adaptar a ele será esquecido", arremata Marco Castellari, CEO da Brasil BItcoin.
>> PONTO DE VISTA
Oportunidades no metaverso
Por Mauricio Isac Cardoso (*)
Quando a gente fala para realidade de negócio, primeiro, eu acho que muitas relações, que hoje são físicas, vão acabar se expandindo para o digital.
Na verdade, já existe o conceito de propriedade digital, ou ativo digital. E esse ativo tem uma uma semelhança muito grande com os ativos físicos que a gente tem também.
Então, quando a gente olha para o mundo digital, provavelmente, esse mundo digital, quando for construído, pode ser um outro um novo universo, numa lógica Second life, The Sims, onde existam casas simples, complexas, grandes, pequenas. E o que vai determinar o valor que essa casa tem, é a tua capacidade de adquiri-la.
Vem também a pergunta: por que ter um ativo digital? Porque, em vários momentos, as nossas relações vão começar a se misturar entre físicas e relações digitais e tudo isso vai fazer com que a gente comece a querer ter ativos que também estejam no meio digital.
E dentro desse conceito significa que existe uma nova lógica de comercialização e as marcas também podem criar novas lógicas de produção e perceber que a dinâmica fordista de quanto mais melhor não necessariamente é uma dinâmica que faz com que as pessoas tenham interesse. Porque no mundo digital copiar é fácil, então quanto mais personalizado, quanto mais específico e quanto mais validado, melhor.
(*) Mauricio Isac Cardoso é diretor de Operações da Casa Azul
Jogo brasileiro quer milionário mercado de games NFT
Principal mercado que deve impulsionar a movimentação de recursos no metaverso, os jogos eletrônicos já projetam experiências de compras e até vendas de itens em plataformas próprias e devem faturar boa parte desses US$ 800 bilhões projetados pela Bloomberg Intelligence até 2025.
Histórias de transações milionárias já são conhecidas mundo a fora e, no Brasil, há empreendedor nordestino interessado em uma fatia desse mercado.
Richard Warrior, 20, lançou, no dia 20 de dezembro, o Clash of Cars, que deve contar com uma criptomoeda própria, a Maya "A Maya, que em Hebraico “Maim” significa água, é a moeda da companhia que lança o Clash of Cars. Esse nome foi escolhido por causa do propósito da empresa: ajudar a minimizar o problema da sede mundial. Para se ter uma noção, a cada dois segundos uma pessoa morre de sede no mundo. São mais de 17 milhões ao ano. Por isso, 1% de todo o supply da Genezys será destinado para salvar vidas através da doação de água. E, enquanto isso, milhares de pessoas verão na tela do celular a chance de colocar comida na mesa para toda a família." , e um sistema de “pagamento” ao usuário a partir da frequência e desempenho dele no jogo.
O dinheiro, com certificação NFT, poderá ser usado inicialmente para compras de itens exclusivos e, no futuro, Warrior projeta até a possibilidade de um câmbio para o “mundo real”.
“Existe uma tendência muito grande nos jogos NFT não só pela questão de ganhar por ganhar, mas para mudar realidade financeira, como na Filipinas, onde um jogador começou a se profissionalizar e o que ele ganhava no dia era o valor que ganhava no trabalho na semana”, exemplifica.
No Clash of Cars, para alcançar resultados positivos e faturar mais Mayas, o usuário vai precisar vencer as corridas propostas na plataforma. Para isso, ele pode equipar o carro com ferramentas de combate, como escudos e armas.
O desenvolvedor de Sergipe conta que deve oferecer ao jogador pacotes iniciais de US$ 30 que devem ser encarados como um investimento, uma vez que a prática e as conquistas podem resultar no aumento do dinheiro aplicado.
No entanto, quem não estiver disposto não fica de fora do Clash, segundo adiantou, pois há possibilidade de gerar Mayas sem comprar os pacotes – óbvio que com uma dificuldade maior.
Na prática, para tornar o game sustentável, as certificações acontecem via tecnologia blockchain, a empresa tem uma garantia de retenção dos recursos por cerca de 60 dias (e liquida 10% no terceiro mês) e rentabiliza o negócio pelas transações dos usuários, cobrando taxas em cima das vendas e compras de itens.
Warrior é CEO da Genesys, uma holding com sede no Reino Unido e que reúne profissionais de diversas partes do mundo.
Os contatos foram feitos pela mãe dele, Gilmara Gonçalves, CMO da Genesys. Ela articulou parte do pessoal internacional e participou da captação de recursos que impulsionaram o desenvolvimento do jogo. Ainda compõem a equipe Euquias Correia, COO e Jesaias Maia, CTO.
Eles tentam se tornar os exemplos brasileiros de casos como o Legacy. O jogo de construção de cidade com NFT virou notícia semana passada após arrecadar US$ 50 milhões em venda de terrenos virtuais que sequer foram lançados ainda.
A especulação sobre a plataforma desenvolvida pela Gala Games já garantiu US$ 55 milhões aos desenvolvedores do jogo. Na prática, o game é um grande loteamento e o desempenho do jogador em construir e gerir a cidade é que garante a criptomoeda, a LegacyCoin – desenvolvida na plataforma da Ethereum.
Mas o mais conhecido desses jogos, atualmente, é o Axie Infinity. Desenvolvido pelo estúdio Sky Mavis, a plataforma consiste na compra, criação e luta de monstrinhos. O investimento inicial, no entanto, supera a compra de consoles, mas pode se tornar bastante rentável a depender da dedicação e desempenho do usuário.
Propriedade intelectual certificada no mundo virtual
As oportunidades abertas por jogos eletrônicos foram observadas também em outros mercados, como o de arte e designer. Galerias renomadas pelo mundo já têm listas de obras com certificação NFT e, no Brasil, inúmeros artistas já criam o registro de propriedade intelectual nos tokens não fungíveis.
Um só artista, Michael Winkelmann, conhecido pelo apelido de Beeple, é responsável pelas duas maiores vendas de obras de arte NFT até agora. "Everydays: the First 5000 Days" é a recordista, comercializada por quase US$ 70 milhões. Em seguida, vem "Human ONE", por US$ 28,9 milhões. Mas isso não é privilégio dos estrangeiros.
Pabllo Vittar, Supla e Hans Donner são exemplos de brasileiros encontrados facilmente no Google. Mas artistas e designer locais também estão atentos a esse mercado em expansão.
Deys Lima, por exemplo, criou interesse pela certificação NFT como forma de garantir a propriedade intelectual aos logotipos que ele desenvolve para empresas no Vale do Jaguaribe, no Ceará. “Na verdade, eu sempre achei uma coisa muito burocrática porque eu conhecia os registros do INPI. Mas quando vi a segurança que isso traz para o meu trabalho, vi que era uma boa”, contou.
Com foco em profissionais autônomos e pequenos negócios, ele enxergou uma segurança para o material que ele desenvolve em termos de originalidade, e não necessariamente a comercialização.
Na prática, a obra dele e dos demais artistas utilizam da tecnologia de blockchain para certificar a operação de originalidade e têm os direitos reconhecidos aos autores em todo o ambiente virtual, seja no metaverso ou nas plataformas que não chegaram a tanto.