Em 2018, no estúdio do O POVO, o candidato bolsonarista ao Governo do Ceará, Hélio Gois, disse no curso de uma pergunta a General Theophilo, então postulante pelo PSDB, que o Estado experimenta um "domínio socialista" do qual Tasso Jereissati teria sido espécie de precussor, responsável por criar Ciro e Cid Gomes que, por sua vez, "fizeram" Camilo Santana.
A discussão sobre socialismo não tem relação com uma eleição estadual, tampouco com um Estado repleto de problemas concretos como o Ceará. E, muito possivelmente, Tasso não produziria admiração no revolucionário cubano Fidel Castro ou no ex-presidente venezuelano Hugo Chávez.
É um exemplo do que se chama de nacionalização do debate própria do estilo retórico bolsonarista. Outras formas de nacionalizar a campanha devem aparecer. A cientista política Carla Michelle Quaresma, professora do Centro Universitário Estácio do Ceará, vislumbra a marca nacional mais presente nos pleitos estaduais do que em outras campanhas.
O pré-candidato Capitão Wagner (Pros) será vinculado a Bolsonaro de modo crítico, assim como o postulante ainda indefinido do PDT a Ciro Gomes (PDT).
A dose é dupla no caso do governador Camilo Santana, provável candidato do PT ao Senado e aliado de Ciro. Será atrelado ao correligionário e ex-presidente Lula e ao cearense e líder pedetista.
"Então, por exemplo, aqui no Ceará, assim como em outros estados do Nordeste brasileiro, essa vinculação ao presidente Bolsonaro será apontada como uma falha do candidato ou como algo que deve ser considerado quando o eleitor for fazer a sua escolha", sinaliza sobre Wagner a docente, segundo quem o político, em função disso, pode alinhar o discurso de campanha ao de Sergio Moro, pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo Podemos.
Aliados políticos, um bolsonarista e o outro morista, Wagner e o senador Eduardo Girão (Podemos) já disseram que a prioridade do ano é a disputa local. O capitão da reserva da Polícia Militar afirmou que o Ceará é sua pátria.
A patente do político é fator com potencial de fortalecer os contornos nacionais. Wagner possui ascendência sobre as fileiras da PM, das quais é egresso. Bolsonaro acena para as PMs do Brasil e fornece facilidades especiais, como a de financiamento de imóveis pela Caixa Econômica.
Wagner se difere dos bolsonaristas ideológicos, que aderem integralmente ao discurso presidencial. Ele já sinalizou que vai buscar reunir ao redor de si o maior número de forças, inclusive as que poderão estar com Lula, como o ex-senador Eunício Oliveira (MDB).
Camilo Santana, por sua vez, muito possivelmente terá de fazer equilibrismos entre Lula e Ciro, entre o PT e o PDT, sem expressar abertamente apoio no primeiro turno, seguindo o que fez em 2016, 2018 e 2020. (Carlos Holanda)