O grupo da família do motoqueiro Jonata Martins, 20, em aplicativo de mensagens ficou movimentado na noite de 18 de janeiro de 2021. Naquele dia, exatamente um ano atrás, ele estava no estado do Pará com o avô, mas conseguiu acompanhar à distância, por meio de vídeos e conversas com os familiares, a vacinação da avó, a técnica de enfermagem Maria Silvana Souza dos Reis, 53, contra a Covid-19.
Foi Silvana quem recebeu a primeira dose da aguardada vacina contra a doença no Ceará e, por isso, todos os holofotes estavam voltados para ela. "Ave Maria, todo mundo comentando, falando direto. Aí foi que eu vi na televisão, eles mandaram o vídeo. (Pensei): Rapaz, não é que é a mulher mesmo? Está famosa, agora'", ri Jonata. A vez de o jovem receber a primeira dose da vacina chegou pouco mais de sete meses depois.
Atualmente, a técnica de enfermagem está entre as mais de 1,5 milhão de pessoas que já receberam a dose de reforço da vacina no Estado, conforme o Vacinômetro da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), atualizado na quinta-feira, 13. Além disso, a Pasta aponta que mais de 6,4 milhões de pessoas tomaram duas doses da vacina.
Desde o início da pandemia, em 2020, Silvana trabalha no Hospital Leonardo da Vinci (HELV), na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com Covid-19. "(Aquele dia) Significou muita coisa para mim. Pela minha idade, pelo trabalho que tive dentro do hospital, as contaminações a que estávamos expostos, toda hora chegando paciente grave. Para mim foi uma glória", conta Silvana.
Vê-la recebendo a primeira vacina aplicada em todo o Estado foi motivo de orgulho para a nora, Lucilene Bento de Souza, 29. "Ela deu exemplo para a família todinha", conta. Um ano depois, Lucilene já cadastrou a filha, de 5 anos, para ser vacinada. Agora que as crianças de 5 a 11 anos já podem receber dose fracionada específica da Pfizer, ela aguarda o dia em que a pequena será chamada para começar o esquema vacinal.
Apesar do bom exemplo que Silvana deu para todo o Estado, houve parentes dela que, por um tempo, tiveram receio de tomar a vacina. Agora, com o início da imunização de crianças no Estado no último sábado, 15, também há familiar que diz ainda não saber se irá vacinar uma filha pequena.
A hesitação vacinal também afetou os povos indígenas cearenses durante esse ano de campanha, aponta Dourado Tapeba, o primeiro indígena a ser vacinado contra a Covid-19 no Estado, naquele mesmo 18 de janeiro de 2021. Ele conta que houve uma parcela que ficou com medo da vacina por conta das desinformações veiculadas nas redes sociais.
Foi necessário traçar estratégias para enfrentar esse problema. Houve situações em que foi necessário negociar com municípios para que doses voltadas aos povos indígenas fossem utilizadas para a população geral para evitar que elas perdessem a validade. E posteriormente, à medida que os indígenas fossem aderindo à vacinação, novas doses seriam liberadas para eles.
Aos poucos, a adesão aumentou. "Nós conseguimos fazer um trabalho de articulação, fazer visita nas casas, conversar com nossos agentes de saúde e conseguimos com que nosso povo se vacinasse. É tanto que hoje estamos, no Povo Tapeba, com quase 96% de vacinados. E no Ceará todo é praticamente o mesmo percentual", explica Dourado, que conta ter ficado honrado em ter sido escolhido para receber a primeira dose da vacina.
No último 1º de dezembro, Dourado Tapeba recebeu a dose de reforço da vacina. Mas o ano de 2021 terminou com novo alerta: os casos de Covid-19 voltaram a subir na aldeia, assim como tem sido observado no restante do Ceará e do Brasil desde a chegada da variante Ômicron do Sars-Cov-2.
"Mas o que eu acho importante é que, mesmo dando positivo, (as pessoas) estão com a segunda e a terceira dose, e os sintomas estão sendo leves", pondera ele, que é assessor do Controle Social e da gestão da Saúde Indígena no Estado.
Segundo o vacinômetro do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará (DSEI- CE) atualizado na terça-feira, 11, o percentual de indígenas acima de 18 anos que recebeu duas doses da vacina é de 95,8%. Dessa faixa etária, 50,7% já tomou a dose de reforço. Já entre os adolescentes, de 12 a 17 anos, 91,3% tomou a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e 68,2% já completou as duas doses.
A próxima fase é vacinar as crianças, que entre os indígenas cearenses são cerca de 7 mil. Em Caucaia, onde vive o povo Tapeba, o público de 11 anos começa a ser vacinado nesta quarta-feira, 19.