No Brasil, a proposta de uma terceira força eleitoral para a disputa à Presidência da República ainda não emplacou. Os mais competitivos são Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT), segundo pesquisas de intenção de voto. Eles ainda estão distantes do pelotão de cima, ocupado pelos dois que aparentemente farão a disputa principal: Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Por grandes partidos, João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB) estão embolados no bloco dos tidos como "nanicos".
O panorama estadual, até o momento, é ainda mais polarizado e com menos alternativa aos dois grandes blocos. A candidatura do PDT representa o bloco governista, e Capitão Wagner (Pros) é o nome de oposição. Como opções, pequenos partidos à esquerda dos pedetistas irão disputar votos: Psol e PSTU. Os liberais do Novo também têm essa intenção. Há ainda incógnitas na fase de definições (ver infográfico). Mas, mesmo partidos que nacionalmente trabalham para ser a terceira via, como Podemos, PSDB e MDB, tendem a estar em um dos grandes blocos no Ceará.
O deputado estadual Renato Roseno (Psol) definiu ao O POVO o que entende ser a disputa que neste momento está posta. "Uma será do campo liderado pelos Ferreira Gomes, que governa há 16 anos. Esse campo deu continuidade ao modelo econômico e político inaugurado nos anos 1980 e não apresenta uma mudança substancial de modelo de desenvolvimento. Outra: do campo bolsonarista. O Ceará já rejeitou o bolsonarismo em 2018 e 2020."
Diante desse quadro, complementa o psolista que vai para a reeleição na Assembleia Legislativa, "a nossa responsabilidade com o Ceará" é de "apresentar uma renovação democrática, popular, pela esquerda." As linhas mestras desse projeto são a distribuição da riqueza, do saber e do poder, nas palavras do político.
Ailton Lopes, candidato a governador em 2014 e 2018, afirma que o clima no partido é de unidade. "O Psol apresentará uma candidatura com programa que atenda aos interesses do povo trabalhador em nosso Estado, que é quem é mais explorado, mais paga imposto e fica só com as sobras das políticas públicas" afirmou Lopes, segundo quem o Ceará vive num "coronelismo" que se verifica na cooptação de prefeitos por meio da máquina pública.
"Exemplo disso foram as recentes filiações de prefeitos ao partido do governador, combinado inclusive com os Ferreira Gomes", diz Ailton, "onde prefeitos são cooptados a partir de recursos públicos que deveriam obrigatoriamente ir para o povo por meio de políticas públicas, independente do partido do prefeito ou do governador."
As grandes alianças são mostra prática da asfixia política pelas quais passam as candidaturas alternativas. Por vezes, inviabilizam até uma segunda via, quanto mais uma terceira. A perspectiva de participar do poder torna as decisões cautelosas, inibindo apostas em representantes de outros projetos.
Em 2006, Cid foi à campanha com nove partidos aliados e Lúcio com oito. Em 2010, Cid disputou a reeleição numa aliança de sete agremiações e Marcos Cals com duas. Em 2014, a concepção das grandes alianças ferreiragomistas atingiram o estágio máximo com Camilo Santana e os 18 partidos que o sustentaram. Eunício Oliveira foi com nove.
Em 2018, por fim, Camilo "pintou" o mapa do Ceará todo de vermelho, ganhando em todos os municípios, com 16 partidos o auxiliando na fácil reeleição sobre General Theophilo, este com duas legendas aliadas.
O nome que representará o Psol será discutido em fevereiro. O PSTU também caminha em direção à candidatura própria. Fausto Pinheiro, da executiva do partido, confirma ao O POVO a intenção, o que será objeto de debate nas instâncias do partido. "Nós estamos chamando a construção de um Polo Socialista e Revolucionário. E dentro desse polo estamos propondo lançar candidaturas daqueles que estão participando das lutas sindicais populares e estudantis."
Os liberais do Novo terão — se tudo se mantiver como está — uma candidatura presidencial do cientista político Luiz Felipe D'Ávila. Atual presidente estadual do partido no Ceará, Afonso Maranguape cita que nesse momento dois nomes são pretendentes à vaga de postulante ao Palácio da Abolição.
"No exato momento, a gente está costurando conversa com dois nomes para ver se a pessoa tem interesse em participar desse pleito junto ao diretório estadual para a gente indicar um deles para o diretório nacional. Para, aí sim, no diretório nacional, dentro do processo seletivo, passar por todo um background checking, como chama, uma varredura de currículo etc, para ele conseguir ser aprovado ou não e vir a ser candidato", explica acerca da forma de tomada de decisões da legenda.
Já o MDB, que ensaia ter Tebet como candidata a presidente, é aliado do governador Camilo Santana (PT), mas não deve apoiar o PDT. Hoje se encaminha para estar com Capitão Wagner (Pros). Já o PSDB, que deverá ter Doria no plano nacional, poderá repetir a aliança municipal de Fortaleza e estar com o PDT no Estado. Líder da sigla, o senador Tasso Jereissati manifestou ao O POVO a decepção com o ex-aliado Capitão Wagner.