O poder de demanda do mercado de luxo no Brasil se tornou destaque internacional no primeiro ano de pandemia. A receita obtida com a comercialização de carros de centenas de milhares de reais, hotéis cinco estrelas, roupas, sapatos, bebidas e cosméticos caros ficou em R$ 25,4 bilhões. Isso representou uma retração de 11% em relação a 2019.
Essa retração, porém, foi menor que as vendas globais de artigos de luxo (-13,8%) quando usado um câmbio constante, segundo dados do Euromonitor.
Apesar de a pandemia, a conta bancária dos mais ricos ficou mais vultuosa. Depois de um 2020 em que os super-ricos adicionaram cerca de US$ 1,9 trilhão à sua fortuna coletiva. Agora, em 2021, foram adicionados mais US$ 1,6 trilhão, de acordo com estimativas da Forbes.
Toda essa fortuna é dividida por 2,6 mil pessoas e, juntos, esses bilionários valem US$ 13,6 trilhões, mais do que o dobro dos US$ 6 trilhões de orçamento dos Estados Unidos da América para o ano de 2022. Sim, os bilionários são mais ricos do que o país que é a maior potência no mundo.
Olhando para a realidade do Brasil, em que a inflação acumulada entre 2020 e 2021 ficou díspar entre ricos e pobres, a desigualdade no poderio de consumo se acentuou. Enquanto a inflação sobre os mais ricos foi de 12,28%. Para os mais pobres, o aumento de preços foi da ordem de 16,3%, praticamente quatro pontos percentuais (p.p.) de diferença, segundo dados do Ipea.
Marco Cavalcanti, diretor adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, explica que, no início da pandemia, em 2020, a inflação se revelou maior para as faixas de renda mais baixa, pois os preços que aumentaram tomavam maior parte do orçamento dos mais pobres, como os gastos com alimentação e habitação. Na renda mais alta, esses itens fazem diferença, mas nem tanto, pois existem outros gastos que geram demanda.
Ele acrescenta que na variação entre 2017 e 2018, a inflação para os segmentos mais abastados era maior, "em 2019 vimos o quadro ficar homogêneo, mas em 2020 tivemos uma dominância da inflação impactando as faixas de renda mais baixas."
O diretor adjunto do Ipea ainda lembra que gastos em escolas particulares, por exemplo, que tiveram as mensalidades congeladas ou pouco reajustadas em 2020, e deflação em outros serviços como passagens aéreas e seguro automotivo, são exemplos da queda da inflação para os ricos.
Sobre a inflação entre as diferentes faixas de renda, Marco diz que, em parte, os ricos que acumularam mais renda na pandemia, agora, com a retomada dos serviços, tendem a gastar mais. E por conta do aumento do patamar de preços, aumento da demanda, dos custos de matérias-primas, o peso da inflação deve ser maior para os ricos.
"(Sobre o patamar da inflação,) Essa é uma discussão que se dá também no Exterior, é um fenômeno que impacta muitos outros países. A expectativa era de que aliando a retomada das atividades e as políticas monetárias ajustando, o patamar caísse, vem acontecendo desde o fim de 2021, num ritmo lento, que deve demorar ainda um pouco para alcançar os patamares de equilíbrio. (Mas) Não devemos esperar que esse patamar elevado se mantenha perpetuamente", analisa.