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O impacto das facções
Reportagem

O impacto das facções

| Origem dos homicídios | Atuação das facções, em Fortaleza, aparece no levantamento feito pelo O POVO como fator impulsionador de mortes
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Entre os casos elucidados e com denúncias ofertadas, atuação de facções é maioria

As facções criminosas aparecem em lugar de destaque na listagem de motivações de homicídios em Fortaleza. Na classificação elaborada pelo O POVO, esses grupos surgem, ao menos, 95 vezes nas 153 denúncias ofertadas pelo Ministério Público Estadual em 2021. São casos em que não só a disputa por pontos de tráfico de drogas se manifesta, mas também a rivalidade entre as facções e a imposição de uma "lei" paralela e arbitrária.

Nas execuções de Ana Júlia Yohara dos Santos e Ana Luiza de Abreu Alexandrino, de 15 e 19 anos, duas das 11 mortes que O POVO classificou como justiçamento. A Polícia Civil apurou que as duas foram mortas após serem arrebatadas por criminosos da Guardiões do Estado que as acusavam de roubos no bairro Vila Manoel Sátiro.

Em seguida, elas foram levadas para as margens da Lagoa do Mondubim, onde foram executadas com mais de 20 tiros. Antes morrem, as jovens foram inquiridas pelos criminosos, que a questionavam sobre quem eram e onde moravam. Um vídeo foi compartilhado nas redes sociais registrando o "tribunal do crime".

Segundo um familiar de Júlia Yohara, ela não era "batizada", mas "simpatizava" com o Comando Vermelho. Já um parente de Ana Luiza disse à Polícia desconhecer envolvimento dela com crimes. Um homem foi denunciado pelo duplo homicídio ocorrido no dia 29/10/2021.

Além dos roubos, outras práticas são proibidas pelas facções em suas áreas e também se mostram como uma fonte pródiga para homicídios. No caso de Eveline Maria Santos da Silva, morta em 6/2 no Vicente Pinzón, por exemplo, a motivação, conforme denúncia do MPCE, foi ela ter agredido um parente.

Já no caso de Pedro Henrique de Sousa Alves, morto em 12/12, na Cidade dos Funcionários, a acusação foi constante envolvimento dele "em conflitos familiares, o que atraía a presença da polícia na região", conforme mencionado na denúncia, além de uma dívida com a facção. Como gota d'água, a vítima ter quebrado um vidro do carro de parente.

E para Thiago Sousa Bento Sales, morto em 8/3 no Genibaú, a morte veio após ele ser autorizado pelo CV a "justiçar" um suspeito de roubar um celular. Ele, porém, viria a acabar matando o suposto ladrão. Pelo assassinato sem autorização da facção, veio a condenação à morte.

Há ainda casos em que as facções não direcionam exatamente uma acusação contra a vítima, apenas a condenam por morar em um território rival. Foi o caso de João Victor Fernandes de Oliveira, morto em 6/6 no Dias Macedo, em um ataque da facção GDE que visava "atingir qualquer pessoa, não necessariamente com vinculação com a organização rival", conforme a denúncia. Assassinatos como esse, foram, pelo menos, oito casos.

Thiago Holanda alerta que, pelo fato de a grande maioria dos homicídios na Capital não serem elucidados, não é possível dizer que as facções são as principais responsáveis pela violência letal em Fortaleza. Ainda que muitos dos autores de homicídio possam ter envolvimento, ele diz, a motivação nem sempre está na dinâmica faccional.

Holanda ressalta que, havendo envolvimento ou não de vítima ou agressor com facções, essa relação não pode ser pretexto para a falta de responsabilização. "Todo homicídio tem que ser investigado. Não se pode colocar, simplesmente, em uma categoria em que se justifique o crime".

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