Mais de um milhão de famílias estavam na fila de espera para receber o Auxílio Brasil em fevereiro, de acordo com um estudo da CNM (Confederação Nacional de Municípios). O total de 1.050.295 famílias aguardando o benefício é mais que o dobro do registrado em janeiro (434.421). A fila contempla famílias que preenchem os requisitos e estavam cadastradas no CadÚnico (Cadastro Único), mas não foram incluídas no Auxílio. O valor de R$ 400, máximo concedido aos beneficiários, ainda é considerado insuficiente para atender as necessidades básicas daqueles que recebem o benefício.
Apesar de superior ao valor do Bolsa Família, os R$ 400 do Auxílio Brasil não cobrem sequer a compra de uma cesta básica no Brasil. Em março, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a cesta básica mais barata do País era a de Aracaju (SE), no valor de R$ 524,99.
Paolla Carvalho, diretora de relações institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, acredita que a pandemia afetou essa quantidade de famílias e o programa ainda não reflete a realidade, já que muitas foram desligadas do Auxílio Emergencial e ainda não conseguiram entrar para o Auxílio Brasil.
O Nordeste é a segunda região do País com mais famílias na fila do benefício em fevereiro, totalizando 339.222, ou cerca de 30% do total. É o segundo maior número, de acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), atrás do Sudeste (422.005) e a frente de Sul (130.972), Norte (85.395) e Centro-Oeste (72.701).
"O auxílio emergencial foi um paliativo que deveria ter sido acompanhado de um processo de transição mais seguro, em que ao mesmo tempo que fossem sendo desligadas as famílias fosse constituído um programa de transferência de renda nos moldes e na envergadura que o Brasil precisa neste momento", afirma.
Para ela, uma política de renda básica precisa atender às múltiplas vertentes da pobreza estrutural. "Todos os desmontes nos colocam no retorno ao mapa da fome, da pobreza. A gente precisa vencer a questão da educação, o atendimento de saúde, garantir que as pessoas entrem na educação superior e tenham um mercado de trabalho, para que a gente possa ter uma política que garanta cidadania e dignidade", pontua.
O Auxílio Brasil é voltado para famílias em situação de pobreza e extrema pobreza e foi lançado pelo governo Jair Bolsonaro (PL) no final do ano passado para substituir o Bolsa Família. Na ocasião do lançamento, o valor do benefício subiu de R$ 224 para R$ 400 — os valores do Bolsa Família ficaram congelados desde 2017 e o aumento anunciado serviu para repor os valores consumidos pela inflação, o que significa que o reajuste não chega a representar um aumento no poder de compra.